Cúpula do Brics discute papel do Sul Global e conflitos internacionais

Na última quinta-feira, dia 24, uma importante reunião ocorreu em Kazan, na Rússia, onde representantes de 36 países se reuniram para a cúpula ampliada do Brics. Este encontro, que faz parte da 16ª conferência dos líderes do bloco, teve como foco principal a situação da Faixa de Gaza e a necessidade de aumentar a participação dos países da Ásia, África e América do Sul nos fóruns internacionais.

O presidente da China, Xi Jinping, foi um dos principais oradores do evento. Ele enfatizou que a ascensão coletiva do Sul Global é uma característica fundamental da transformação que o mundo está vivenciando. Xi afirmou que a união dos países do Sul Global em busca de modernização é um marco na história mundial e que, apesar dos desafios, é um caminho que deve ser trilhado. Ele destacou que esses países devem ter um papel ativo na reforma da governança econômica global, colocando o desenvolvimento como prioridade na agenda internacional.

Sobre a crise na Faixa de Gaza, Xi Jinping pediu um cessar-fogo abrangente e a revitalização da solução de dois Estados, que visa a coexistência pacífica entre Israel e um futuro Estado palestino. Ele também alertou sobre a necessidade de evitar a propagação do conflito para outras regiões, como o Líbano.

A cúpula contou com a presença de líderes de diversos países, incluindo Cuba, Bolívia, Venezuela, Turquia, Vietnã, Indonésia, Bangladesh e Malásia. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, também esteve presente. O Brasil foi representado pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que abordou temas como a situação em Gaza, a reforma da ONU e a guerra na Ucrânia. O chanceler brasileiro criticou a hipocrisia de países que se dizem defensores dos direitos humanos, mas ignoram as atrocidades cometidas em Gaza.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, também fez um discurso significativo. Ele mencionou que a transição para uma ordem mundial mais justa é um processo complicado, dificultado por forças que ainda operam sob a lógica da dominação. Putin criticou as sanções econômicas unilaterais e a manipulação dos mercados financeiros, além de destacar a necessidade de criar um Estado palestino independente para garantir a paz no Oriente Médio. Ele ressaltou que as injustiças históricas contra o povo palestino precisam ser corrigidas para que a violência cesse.

O chanceler indiano, S. Jaishankar, trouxe à tona a ideia de que o reequilíbrio político e cultural já é uma realidade, e que o Brics é um exemplo claro de como a antiga ordem mundial está mudando. Ele também mencionou que as desigualdades persistem, especialmente no acesso a recursos e tecnologias modernas, e pediu reformas nos bancos internacionais, que ainda operam com procedimentos antiquados.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também participou da cúpula e elogiou os esforços para construir um mundo baseado no multilateralismo. Ele destacou que nenhum país pode resolver os problemas globais sozinho e que é necessário um esforço conjunto. Guterres concordou que o sistema financeiro atual não atende adequadamente às necessidades dos países mais pobres e pediu uma reestruturação das dívidas desses países, além de um aumento no apoio financeiro.

Guterres também reiterou a urgência de um cessar-fogo na Faixa de Gaza, pedindo a libertação imediata de todos os reféns e a entrega de ajuda humanitária sem obstáculos. Ele enfatizou a importância de avançar em direção à solução de dois Estados, que é fundamental para a paz na região.

A cúpula ampliada do Brics, portanto, não apenas abordou questões de governança e desenvolvimento, mas também se posicionou firmemente em relação a conflitos internacionais, destacando a necessidade de um novo paradigma que inclua a voz e a participação ativa dos países do Sul Global nas decisões que afetam o mundo.