Mural em São Paulo usa cinzas de queimadas para protestar contra desmatamento

Mural denuncia desmatamento e homenageia ativista.

Mural em São Paulo usa cinzas de queimadas para protestar contra desmatamento

Notícia publicada em 24/10/2024 11:02 - #meio_ambiente


Um grande mural foi inaugurado em São Paulo, na quarta-feira (23), com o objetivo de denunciar o desmatamento no Brasil e chamar a atenção para a preservação das florestas. A obra, criada pelo ativista Mundano, foi pintada com cinzas de queimadas provenientes de diversas regiões do Brasil, como a Floresta Amazônica, o Cerrado, a Mata Atlântica e o Pantanal. Além disso, a pintura também incorporou lama resultante das enchentes que ocorreram no Rio Grande do Sul neste ano.

O mural, que ocupa uma área de 1.581,60 m², está localizado na lateral de um prédio na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, próximo à famosa Avenida Paulista. A obra retrata uma floresta devastada ao fundo e destaca a imagem da indígena Alessandra Munduruku, que segura uma placa com a mensagem "Stop the Destruction" (Pare a Destruição). Mundano explicou que a escolha dos materiais utilizados na pintura é simbólica, pois ele está "pintando a destruição com o próprio pigmento da destruição".

Mundano também enfatizou que o mural é um grito por mudanças e uma homenagem a Alessandra Munduruku, que é uma importante defensora da Amazônia e recentemente recebeu o Prêmio Ambiental Goldman, um reconhecimento internacional para ativistas ambientais. Alessandra tem se destacado na luta contra o projeto da Ferrogrão, que propõe a construção de uma ferrovia que, segundo críticos, pode causar sérios danos ao meio ambiente e violar direitos humanos.

O ativista destacou que a Cargill, uma das maiores empresas de agronegócio do mundo, é uma das responsáveis pelo aumento do desmatamento no Brasil. Ele criticou a empresa, afirmando que ela não tem cumprido seus compromissos de acabar com o desmatamento em suas cadeias produtivas. "O mural é um lembrete para eles cumprirem promessas que eles mesmos criaram", disse Mundano, referindo-se às promessas da Cargill de eliminar o desmatamento até 2025.

A criação do mural foi realizada em parceria com a Campanha Burning Legacy da Stand.earth, que se comprometeu a levar a mensagem para os Estados Unidos. A ideia é entregar cartazes com os nomes dos membros da família Cargill-MacMillan, impressos com as mesmas cinzas utilizadas na obra, cobrando que cumpram suas promessas de proteção ambiental.

A inauguração do mural contou com a presença de representantes do povo Guarani, que expressaram a importância da obra. Daniel Wera, um auxiliar comunitário dos Guaranis, afirmou que a mensagem do mural é para o mundo todo e que é fundamental ouvir as vozes dos povos indígenas, que são os verdadeiros guardiões da natureza. Ele ressaltou que a luta de Alessandra Munduruku é um exemplo de resistência e que a mudança necessária para acabar com o desmatamento passa pelo diálogo e pela inclusão das lideranças indígenas nas decisões sobre o meio ambiente.

Além do mural em São Paulo, outro trabalho semelhante foi realizado em Porto Velho (RO), onde quatro artistas locais criaram um mural de 25 metros que denuncia as queimadas na Amazônia. Essa obra, chamada "Amazônia em Chamas", destaca a beleza e a riqueza do bioma, ao mesmo tempo em que retrata a destruição causada por ações humanas e mudanças climáticas.

Na próxima sexta-feira (25), um novo mural será inaugurado em São Paulo, criado pelo artista Pixote, que também utiliza cinzas de queimadas e destaca o trabalho dos brigadistas florestais voluntários. Essa obra faz parte do Festival Paredes Vivas - Edição Cinzas da Floresta, que já passou por várias cidades do Brasil.

A Cargill, por sua vez, se manifestou sobre o mural, afirmando que respeita a liberdade de expressão do artista, mas que as alegações feitas no mural são imprecisas e distorcem o trabalho da empresa. A Cargill reafirmou seu compromisso de eliminar o desmatamento em suas cadeias de abastecimento até 2025 e destacou suas ações para proteger os direitos humanos e promover a sustentabilidade.

Essas iniciativas artísticas têm como objetivo não apenas chamar a atenção para a questão do desmatamento, mas também promover um diálogo sobre a importância da preservação ambiental e o papel fundamental dos povos indígenas na proteção das florestas brasileiras.


Wiki: Mundano (artista)
Mundano é um artista brasileiro, conhecido por seu trabalho no campo da arte urbana e por sua atuação como ativista socioambiental. Nascido em São Paulo, Mundano ganhou notoriedade por suas intervenções artísticas que abordam questões sociais, ambientais e de sustentabilidade, utilizando a arte c... Ver wiki completa