Brasil critica a inação internacional sobre Gaza

Na última quinta-feira, 24 de agosto, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, fez um discurso contundente durante a cúpula do Brics, que contou com a participação de 36 países em Kazan, na Rússia. Ele expressou sua preocupação com a omissão de várias nações em relação à grave situação que se desenrola na Faixa de Gaza. O chanceler brasileiro elogiou, por outro lado, a atuação de países do Sul Global, que têm buscado mediar o conflito no Oriente Médio.

Vieira destacou que os países do Sul Global foram os que votaram a favor de uma resolução da Assembleia Geral da ONU, que pede a cessação das hostilidades na região. Ele criticou a postura de outras nações, afirmando que o papel delas tem sido decepcionante e, em alguns casos, conivente. "Os que se dizem defensores dos direitos humanos estão ignorando uma das maiores atrocidades da história recente", afirmou o ministro.

O Sul Global refere-se a países que são considerados pobres ou em desenvolvimento, a maioria localizada no Hemisfério Sul. Vieira enfatizou que a situação em Gaza, que muitos países, incluindo o Brasil, consideram um genocídio contra o povo palestino, comprometeu a autoridade do Conselho de Segurança da ONU e a integridade do direito humanitário internacional.

O chanceler brasileiro também ressaltou que não haverá paz duradoura na região sem a criação de um Estado palestino independente, uma solução que tem sido rejeitada pelo governo de Israel. Ele lembrou que a decisão sobre a existência desse Estado foi tomada há 75 anos pelas Nações Unidas, mas que a mesma ONU que criou Israel agora se encontra paralisada em relação a essa questão.

Embora tenha reconhecido que não há justificativa para os atos terroristas cometidos pelo Hamas, Vieira criticou a resposta desproporcional de Israel, que, segundo ele, se transformou em uma punição coletiva ao povo palestino. Ele fez uma comparação alarmante, afirmando que já foram lançados sobre Gaza mais explosivos do que os que atingiram cidades como Dresden, Hamburgo e Londres durante a Segunda Guerra Mundial.

Além de abordar a situação em Gaza, o chanceler também fez críticas ao embargo econômico imposto pelos Estados Unidos a Cuba, que já dura mais de seis décadas. Vieira argumentou que o Brasil é contra sanções unilaterais, pois elas violam o direito internacional e prejudicam as populações dos países afetados. Ele destacou que o caso de Cuba é um exemplo claro da irracionalidade dessas medidas, que têm impactado negativamente o desenvolvimento econômico do país e agravado problemas nas áreas de energia, alimentação e saúde.

O discurso de Mauro Vieira também incluiu comentários sobre a guerra na Ucrânia. Ele mencionou a iniciativa do Brasil e da China de formar um grupo chamado Amigos da Paz, com o objetivo de buscar uma solução para o conflito que envolve a Rússia. O chanceler afirmou que o grupo visa fomentar o diálogo e que a paz só será alcançada com o respeito ao direito internacional e ao papel central das Nações Unidas.

Outro ponto importante abordado por Vieira foi a necessidade de reforma das Nações Unidas, uma das principais demandas do Brics. Ele mencionou que o Brasil está considerando convocar uma revisão da carta da ONU, com base no artigo 109, que permite a convocação de uma Conferência Geral para rever as regras da organização. Para que isso aconteça, é necessário o apoio de dois terços dos membros da Assembleia Geral e de nove membros do Conselho de Segurança, além da aprovação de todos os membros permanentes do Conselho.

O discurso de Mauro Vieira na cúpula do Brics reflete a posição do Brasil em relação a questões internacionais complexas e a busca por um mundo mais justo e equitativo, onde as vozes dos países em desenvolvimento sejam ouvidas e respeitadas.