Manguezais transformam pescadores em guias turísticos

Iniciativas sustentáveis mudam a vida de pescadores.

Manguezais transformam pescadores em guias turísticos

Notícia publicada em 24/10/2024 10:47 - #meio_ambiente


A Baía de Guanabara, localizada na região metropolitana do Rio de Janeiro, é um lugar que gera sentimentos contraditórios. Por um lado, é vista como uma área poluída, mas por outro, é um dos cartões postais mais bonitos do Brasil, com vistas deslumbrantes do Pão de Açúcar, da ilha de Paquetá e do Cristo Redentor. No entanto, longe das áreas mais conhecidas, existem extensões de manguezais, que são ecossistemas fundamentais para a vida marinha e a proteção ambiental.

Os manguezais são áreas que fazem a transição entre o ambiente marinho e terrestre, e sua conservação é vital para a mitigação das mudanças climáticas. Recentemente, iniciativas sustentáveis têm transformado a rotina de pescadores e catadores de caranguejos que vivem nessa região. Um exemplo é o pescador Nilo Ferreira Filho, de 72 anos, que após décadas de pesca, agora também atua como guia turístico, levando visitantes para conhecer os manguezais próximos à Praia de Piedade. Ele destaca a importância da preservação do mangue, afirmando que é essencial para a criação de peixes e para o sustento da comunidade.

Cerca de 80% das espécies de peixes, crustáceos e moluscos dependem dos manguezais em alguma fase de suas vidas, segundo a oceanógrafa Liziane Alberti, especialista em conservação da biodiversidade. Outro pescador, Carlos Eduardo Antônio de Paula, de 46 anos, também se tornou guia e acredita que o turismo é uma forma de mostrar a beleza e a importância do manguezal, desmistificando a ideia de que a lama do mangue é contaminada.

A pescadora Lucimar Machado, fundadora de projetos voltados para a preservação do manguezal, acredita que o turismo ambiental é uma maneira de mostrar a verdadeira beleza desse ecossistema. Ela realiza passeios de caiaque, onde os visitantes podem observar a vida marinha e aprender sobre a importância da conservação.

De acordo com Pedro Belga, biólogo e presidente da ONG Guardiões do Mar, cerca de 650 famílias na Baía de Guanabara são catadoras de caranguejo, e aproximadamente 5 mil vivem da pesca, com uma renda média de pouco mais de R$ 2 mil mensais. Lucimar descreve essa atividade como “turismo de base comunitária”, onde os pescadores se tornam guias e compartilham suas experiências com os visitantes.

Um dado interessante é que 83% dos brasileiros conhecem os manguezais, mas 58% nunca os visitaram. Essa informação foi divulgada durante a 16ª Conferência de Biodiversidade da Organização das Nações Unidas (COP 16), que ocorreu na Colômbia. O estudo ressalta o potencial do turismo ecológico na região.

Alaildo Malafaia, presidente da Cooperativa Manguezal Fluminense, também destaca a importância da conservação. Ele afirma que, ao trabalhar para preservar os manguezais, está contribuindo para a bioeconomia da região. A oceanógrafa Liziane Alberti complementa que os manguezais são valiosos para a economia, pois a pesca artesanal e o turismo são algumas das atividades que se beneficiam da saúde desses ecossistemas.

Além disso, o conhecimento tradicional das comunidades locais é fundamental para a restauração dos manguezais. Lucimar enfatiza que as pessoas que vivem na região têm um conhecimento profundo sobre o ambiente e suas necessidades. Alaildo compartilha uma experiência em que a técnica de replantio desenvolvida pelos pescadores locais foi mais eficaz do que as abordagens tradicionais.

Um estudo recente aponta que os manguezais brasileiros têm um potencial de gerar pelo menos R$ 49 bilhões no mercado de crédito de carbono. Pedro Belga defende que o conhecimento tradicional deve ser considerado na divisão de recursos arrecadados por mecanismos de compensação ambiental. Ele acredita que, quando as comunidades locais se beneficiarem desse mercado, isso poderá resultar em investimentos em projetos socioambientais.

A preservação dos manguezais é um desafio, especialmente devido ao problema do lixo na região. A analista ambiental do ICMBio, Natália Ribeiro, alerta que o descarte inadequado de resíduos é um grande problema que afeta a Baía de Guanabara. Ela destaca a necessidade de conscientização da população para evitar que o lixo chegue aos rios e, consequentemente, à baía.

Essas iniciativas mostram que a conservação dos manguezais não apenas protege o meio ambiente, mas também transforma a vida das comunidades locais, proporcionando novas oportunidades de sustento e valorizando o conhecimento tradicional. O futuro dos manguezais e das comunidades que dependem deles está interligado, e a preservação é um caminho que todos podem seguir juntos.


Wiki: Baía de Guanabara (lugar)
A Baía de Guanabara é uma das mais famosas baías do Brasil, localizada no estado do Rio de Janeiro. Com uma área de aproximadamente 412 km², a baía é cercada por montanhas e possui uma rica biodiversidade, além de ser um importante ponto turístico e histórico do país. A baía é conhecida por suas ... Ver wiki completa