Lula propõe novas formas de pagamento no Brics

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, por videoconferência, da 16ª Cúpula de Líderes do Brics, que ocorreu em Kazan, na Rússia, no dia 23 de agosto. Durante sua fala, Lula defendeu a criação de meios de pagamento alternativos para facilitar as transações comerciais entre os países que fazem parte do bloco. O Brics é um grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e, neste ano, recebeu a adesão de cinco novos membros: Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Etiópia.

Lula argumentou que a implementação de novos métodos de pagamento ajudaria a reduzir a vulnerabilidade das nações em desenvolvimento e a minimizar as desigualdades no sistema financeiro global. Ele enfatizou que a proposta não visa substituir as moedas nacionais, mas sim criar um sistema financeiro mais justo e equilibrado. "Essa discussão precisa ser enfrentada com seriedade, cautela e solidez técnica, mas não pode ser mais adiada", afirmou o presidente.

Além de discutir a questão dos pagamentos, Lula também abordou temas que são recorrentes em seus discursos em fóruns internacionais, como o combate às mudanças climáticas, a luta contra a fome, e a crítica às guerras que ocorrem em várias partes do mundo, especialmente no Oriente Médio e na Europa Oriental. Ele também defendeu a taxação dos super-ricos e a democratização das instituições multilaterais.

Na cúpula, um dos principais tópicos discutidos foi a redução da dependência do dólar nas transações comerciais entre os países do Brics. Lula mencionou a criação do Mecanismo de Cooperação Interbancária, que permitirá que os bancos de desenvolvimento do bloco estabeleçam linhas de crédito em moedas locais. Essa iniciativa visa reduzir os custos de transação para pequenas e médias empresas, facilitando o comércio entre os países membros.

O presidente também destacou o trabalho do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), que é o banco do Brics e é liderado pela ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff. Lula ressaltou que o NDB, que completa 10 anos neste ano, tem se dedicado a financiar projetos de infraestrutura que são essenciais para o fortalecimento das economias dos países do bloco. Ele mencionou que o banco possui quase 100 projetos em sua carteira, com financiamentos que somam cerca de US$ 33 bilhões.

Lula também fez uma análise do potencial econômico dos países do Brics, afirmando que o bloco representa 36% do PIB global por paridade de poder de compra e possui uma grande quantidade de recursos naturais, como 72% das terras raras do planeta e 75% do manganês. No entanto, ele lamentou que, apesar desse potencial, os fluxos financeiros ainda se concentram em nações desenvolvidas.

O presidente brasileiro também se preparou para a presidência do Brics em 2025, enfatizando a necessidade de modernizar as instituições de governança global e democratizar o acesso a tecnologias. Ele criticou a desigualdade no acesso a vacinas e medicamentos, que se tornou evidente durante a pandemia, e destacou a importância de fortalecer as capacidades tecnológicas dos países em desenvolvimento.

Lula também fez críticas às guerras em andamento, citando a situação na Faixa de Gaza, que ele descreveu como "o maior cemitério de crianças e mulheres do mundo". Ele pediu um esforço conjunto para evitar a escalada de conflitos, especialmente entre a Ucrânia e a Rússia. O presidente brasileiro enfatizou a importância de trabalhar em conjunto para alcançar objetivos comuns, destacando que o lema da presidência brasileira será "Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável".

Durante seu discurso, Lula agradeceu o apoio dos membros do Brics à presidência brasileira do G20 em 2024 e reiterou a importância de abordar a redução das desigualdades no mundo, propondo a taxação dos super-ricos e o combate à fome. Ele convidou os países a se unirem à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que será lançada na Cúpula de Líderes do G20, marcada para novembro no Rio de Janeiro.

Por fim, Lula ressaltou a urgência de ações contra as mudanças climáticas e pediu um maior comprometimento dos países ricos em financiar medidas de prevenção e mitigação. Ele alertou que a responsabilidade maior recai sobre os países desenvolvidos, que historicamente contribuíram mais para a crise climática. O presidente concluiu afirmando que o futuro do planeta depende da ação coletiva e que o Brics desempenha um papel fundamental nesse enfrentamento.