Obesidade: Desafios no Atendimento em Emergências
Despreparo e infraestrutura afetam atendimento a obesos.
Notícia publicada em 23/10/2024 14:02 - #saude
O atendimento a pacientes com obesidade nas emergências médicas do Brasil enfrenta sérios desafios. De acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), é urgente que as unidades de saúde se adaptem para atender essa população de forma adequada. Isso inclui desde a estrutura física dos hospitais até a capacitação das equipes médicas.
As entidades destacam que o aumento da obesidade entre os brasileiros traz à tona a necessidade de mudanças significativas nos serviços de saúde. Dados do Ministério da Saúde mostram que 61,4% da população nas capitais brasileiras está com sobrepeso, e 24,3% vive com obesidade. A Federação Mundial de Obesidade estima que, até 2035, o número de adultos com sobrepeso ou obesidade no mundo pode chegar a 3,3 bilhões. Diante desse cenário, é fundamental que a qualidade do atendimento a esses pacientes seja uma prioridade.
Um dos principais problemas enfrentados nas emergências é a realização de exames físicos. O excesso de tecido adiposo dificulta a execução de procedimentos clínicos essenciais, como a palpação e a ausculta, o que pode atrasar a identificação de sinais críticos, como a pulsação em pacientes inconscientes. Essa situação é preocupante, pois pode comprometer a eficácia de intervenções que exigem resposta rápida, como a ressuscitação cardiopulmonar.
Além disso, procedimentos comuns, como a obtenção de acesso venoso, tornam-se mais complexos e podem exigir várias tentativas, aumentando o risco de infecções e tromboses. A intubação em pacientes obesos também apresenta desafios, pois requer técnicas especializadas, como a posição rampada, que facilita a visualização das vias aéreas e melhora a ventilação.
Os exames de imagem, como ultrassonografias e radiografias, também são afetados pela presença de tecido adiposo. Muitas vezes, tomografias e ressonâncias magnéticas precisam ser realizadas em múltiplas varreduras, o que não só prolonga o tempo do exame, mas também aumenta a exposição à radiação.
Diante desse quadro, a Abramede e a Abeso apresentaram uma série de recomendações para melhorar o atendimento a pacientes obesos nas emergências:
- Adaptar a infraestrutura das unidades de emergência para acomodar o peso e as dimensões dos pacientes, incluindo a disponibilização de macas reforçadas, cadeiras de rodas maiores e balanças de alta capacidade.
- Capacitar as equipes médicas para que possam realizar exames físicos adaptados à obesidade e manusear corretamente os equipamentos necessários para o atendimento desses pacientes.
- Combater o estigma associado à obesidade, incentivando os profissionais de saúde a utilizarem uma linguagem empática e adequada, evitando atitudes preconceituosas que possam impactar negativamente o atendimento.
No que diz respeito às políticas públicas, as entidades sugerem a inclusão de treinamento sobre obesidade e suas comorbidades nos currículos dos programas de residência em medicina de emergência. Além disso, propõem que o peso do paciente seja incluído nas informações de referenciamento, para que aqueles com mais de 150 quilos sejam encaminhados a serviços capacitados para atendê-los.
As associações também defendem a criação urgente de protocolos clínicos padronizados para o cuidado de pacientes com obesidade grave em emergências, que incluam adaptações físicas e suporte psicológico. O combate à gordofobia deve ser promovido por meio de campanhas institucionais de conscientização e educação, visando reduzir o preconceito e garantir um atendimento humanizado e adequado.
Essas medidas são essenciais para que o sistema de saúde brasileiro possa atender de forma eficaz a uma população que cresce em número e que, muitas vezes, enfrenta barreiras significativas no acesso a cuidados médicos adequados. O desafio é grande, mas a implementação dessas recomendações pode fazer uma diferença significativa na vida de muitos pacientes.