Universidade Federal do ABC cria centro de estudos sobre favelas

A Universidade Federal do ABC (UFABC) acaba de inaugurar um novo centro de pesquisa chamado Centro de Estudos da Favela (Cefavela). Este centro tem como principal objetivo se tornar um polo de pesquisa focado nas comunidades periféricas, especialmente nas favelas. A iniciativa conta com a participação de 38 pesquisadores, sendo que 11 deles têm vínculos com instituições acadêmicas de outros países, 15 são da UFABC e 12 pertencem a instituições nacionais.

Um dos principais propósitos do Cefavela é contribuir com conhecimento que ajude na formulação de políticas públicas e na luta por direitos das comunidades. O centro busca superar a visão tradicional que muitas vezes reduz os moradores de favelas a meros objetos de estudo, sem considerar suas realidades e necessidades.

Para que o projeto seja bem-sucedido, é fundamental a articulação entre a academia, órgãos governamentais, organizações não governamentais e movimentos sociais. Um dos agentes que facilita essa conexão é o Centro de Pesquisa, Difusão e Inovação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Cepid).

O coordenador do Cefavela, Jeroen Klink, destacou que os pesquisadores envolvidos já têm uma relação próxima com as comunidades e suas temáticas. Ele enfatizou que o grupo está alinhado com a proposta da UFABC de atuar na dimensão político-pedagógica. Klink também mencionou que é necessário que os pesquisadores se atualizem sobre novos fatores que surgem nas favelas, como a formação de organizações criminosas, mudanças nas configurações imobiliárias e os desafios e oportunidades que as ações de urbanização apresentam.

"A nossa literatura e as práticas de urbanização de favelas foram consolidadas ao longo do século 20, mas a favela contemporânea mudou", afirmou Klink. Ele ressaltou que ainda não conseguimos resolver a precariedade habitacional e integrar as favelas à cidade. Além disso, as favelas trazem novos desafios, como a maior densidade construtiva, a reocupação de áreas anteriormente ocupadas e a proliferação de riscos ambientais. Isso torna as intervenções públicas de urbanização mais complexas e exige ações que envolvam múltiplos setores.

O Cefavela já deu início às suas atividades e, em setembro, abriu o primeiro edital para seleção de pós-doutorandos interessados em participar do centro. Também há previsão de concessão de bolsas de treinamento técnico, iniciação científica, mestrado e doutorado.

Neste início de atividades, a União Nacional por Moradia Popular (UNMP), que representa a população que vive nas favelas, é uma das organizações parceiras do Cefavela. Além disso, o centro conta com a colaboração de várias instituições, como o Ministério das Cidades, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), entre outras. Essas instituições já tinham uma relação de trabalho com a UFABC, e a criação do Cefavela representa um avanço no fortalecimento dessas parcerias.

Klink destacou que muitas dessas instituições são referências na área de estudos sobre favelas e urbanização, o que pode trazer um grande valor ao trabalho desenvolvido no Cefavela. Com a união de esforços entre academia e comunidade, espera-se que o centro possa gerar resultados significativos para a melhoria das condições de vida nas favelas e contribuir para a construção de um futuro mais justo e igualitário para todos os cidadãos.

A criação do Cefavela é um passo importante para a pesquisa e a valorização das comunidades periféricas, mostrando que a academia pode e deve se envolver ativamente nas questões sociais e urbanas que afetam a vida de milhões de brasileiros.