Brics busca alternativas em meio a tensões entre EUA e China

Brics se reúne para discutir tecnologia e comércio.

Brics busca alternativas em meio a tensões entre EUA e China

Notícia publicada em 21/10/2024 08:32 - #politica


A Cúpula do Brics, que acontece entre os dias 22 e 24 de outubro em Kazan, na Rússia, tem como um de seus principais objetivos contornar as dificuldades impostas pelos Estados Unidos e seus aliados ao avanço comercial e tecnológico da China. O bloco, que já conta com Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, agora se expande com a inclusão de novos membros, como Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Egito. Essa ampliação reflete a necessidade de países que enfrentam bloqueios econômicos, como Irã e Rússia, de encontrar alternativas para superar as sanções financeiras que os afetam.

Os especialistas em relações internacionais, como o professor José Augusto Fontoura Costa, da Universidade de São Paulo (USP), destacam que a China tem enfrentado sanções econômicas dos EUA e da Europa, que visam barrar seu avanço tecnológico. Essas sanções incluem proibições de investimentos chineses nos Estados Unidos e restrições à exportação de tecnologia avançada para a China. Além disso, há uma campanha para excluir empresas chinesas da expansão da internet 5G, que é crucial para o desenvolvimento tecnológico moderno.

O professor José Augusto explica que os Estados Unidos estão em uma guerra comercial com a China, tentando conter seu desenvolvimento. Nesse contexto, a China busca construir um espaço econômico que favoreça sua atuação, o que é de interesse não apenas para ela, mas também para os demais países que fazem parte do Brics. O foco principal dessa disputa entre as duas potências é a tecnologia de ponta, que inclui setores como chips, foguetes, biotecnologia, medicamentos e química avançada. O resultado dessa competição pode determinar quem será o novo líder hegemônico no cenário global.

A professora Maria Elena Rodríguez, coordenadora do grupo de pesquisa sobre Brics da PUC do Rio de Janeiro, complementa que as potências ocidentais têm interesse em manter o controle sobre as tecnologias mais avançadas. Isso ocorre porque, ao controlar uma tecnologia exclusiva, um país pode criar dependência econômica e tecnológica em relação a ele, o que é uma forma de imperialismo. Ela acredita que o Brics deve se esforçar para fortalecer a cooperação tecnológica entre seus membros, criando um espaço onde possam desenvolver suas próprias tecnologias sem depender das potências ocidentais.

O Banco dos Brics, segundo a professora, tem um papel importante nesse processo, ajudando os países a alcançarem níveis de desenvolvimento tecnológico significativos. O professor José Augusto também ressalta a importância de estruturar sistemas de financiamento e mercados que permitam aos países do Brics desenvolverem suas tecnologias. Ele afirma que a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico exigem investimentos substanciais, uma economia forte e mercados para os produtos e insumos que os países consomem. A integração econômica entre os membros do Brics é fundamental para que a China, por exemplo, possa continuar avançando em tecnologia.

Atualmente, o Brics representa cerca de 36% do Produto Interno Bruto (PIB) global, superando o G7, que inclui as maiores economias do mundo, como Estados Unidos, França, Reino Unido e Alemanha, que juntos representam cerca de 30% do PIB mundial. Além disso, o Brics abriga aproximadamente 42% da população mundial.

Para o Brasil, a participação no Brics é uma oportunidade de se posicionar estrategicamente entre os dois blocos geopolíticos em disputa, sem perder espaço no grupo liderado pelos Estados Unidos. O professor José Augusto enfatiza que o Brasil deve aproveitar sua relação com a China para avançar em tecnologia, destacando que o país já possui expertise em áreas como pesquisa agropecuária, tecnologia aeronáutica, petróleo e gás, além de construção civil e hidrelétricas.

Ele observa que o Brasil não é um país sem tecnologia, mas que perdeu tempo sem investir adequadamente em ciência e tecnologia. O desenvolvimento tecnológico brasileiro sempre foi impulsionado pelo Estado, através de empresas como Petrobras, Embrapa e Embraer, que, mesmo sendo privadas, recebem investimentos públicos.

A professora Maria Elena também menciona que o Brasil está tentando construir uma agenda voltada para a tecnologia, com um projeto de neo-industrialização do governo federal. Ela acredita que o Brasil está se posicionando de forma forte em seus processos de cooperação, especialmente com a China, em áreas como tecnologias verdes, que podem ajudar o país em sua reindustrialização. Essa cooperação é vista como uma forma de fortalecer os países do Sul Global, promovendo um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável.


Wiki: Brics (organização)
Os BRICS são um grupo de países emergentes que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A sigla BRICS é uma combinação das iniciais dos nomes desses países, que se uniram com o objetivo de promover a cooperação econômica, política e cultural entre suas nações. A organização foi formal... Ver wiki completa