Crise Climática e Seus Efeitos no Mundo

O ano de 2025 começou com chuvas intensas em algumas regiões do Brasil, como o Sul e o Centro-Oeste, enquanto o Nordeste enfrenta estiagem. Esses fenômenos climáticos extremos são um reflexo das mudanças climáticas que afetam o planeta e que, a cada ano, se tornam mais evidentes. Além de impactar o clima, essa crise também acentua desigualdades sociais e traz novos desafios globais.

A pesquisadora Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília (UnB), que também faz parte do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU), destaca que a crise climática não é um problema isolado. Em uma entrevista à Agência Brasil, ela afirma que essa crise é uma amplificadora de outras crises que já enfrentamos, como a desigualdade social, a fome, a escassez de água, as migrações forçadas e os conflitos geopolíticos.

Mercedes explica que a sociedade humana se desenvolveu ao longo de 10 mil anos em um período de relativa estabilidade climática. Com as mudanças atuais, essa estabilidade está sendo comprometida, e as consequências disso são profundas. A desigualdade social, por exemplo, está aumentando, com uma concentração de renda cada vez maior nas mãos de poucos. Isso torna a sociedade mais dependente de recursos para enfrentar as mudanças climáticas e para se adaptar a elas.

A pesquisadora enfatiza que, para amenizar as instabilidades causadas pela crise climática, é fundamental agir nas causas do aquecimento global. Isso inclui uma transição energética rápida e eficaz, que reduza a dependência de combustíveis fósseis. Mercedes sugere que é essencial investir em fontes de energia que não contribuam para o aquecimento global. Além disso, ela ressalta que as escolhas individuais, como consumo e mobilidade, também são importantes, mas precisam ser apoiadas por políticas públicas que ofereçam alternativas viáveis.

Por exemplo, para que as pessoas deixem de usar seus veículos particulares, é necessário que haja um sistema de transporte público de qualidade, que seja acessível e eficiente. A construção de moradias em áreas seguras e com acesso a serviços essenciais também é uma questão que deve ser abordada por meio de planejamento urbano adequado. As cidades, que concentram grande parte da população, podem ser tanto um problema quanto uma solução para as crises climáticas.

Mercedes também destaca a importância do setor financeiro em apoiar iniciativas que visem reduzir a crise climática. A atmosfera é um bem comum, e todos os setores da sociedade devem se unir para enfrentar esse desafio. A coordenação entre os governos é crucial, e acordos globais sobre o clima são fundamentais para garantir que todos os países façam sua parte na redução das emissões de gases de efeito estufa.

A pesquisadora menciona que o Brasil, em particular, precisa se concentrar em suas áreas urbanas, que têm enfrentado eventos climáticos extremos desde 2011. A prioridade deve ser salvar vidas e retirar as pessoas de áreas de risco. A reconstrução das cidades afetadas deve ser feita de forma planejada, considerando a possibilidade de novos desastres. Além disso, a agricultura, que é um dos setores que mais emite gases de efeito estufa, deve ser repensada para incluir práticas que conservem os recursos naturais e reduzam as emissões.

Mercedes também comenta sobre a influência das decisões políticas globais, como a eleição do presidente dos Estados Unidos, no enfrentamento das crises climáticas. A participação dos Estados Unidos, que é um dos maiores emissores de gases de efeito estufa, é crucial para o sucesso das iniciativas globais. Mesmo que o país tenha se afastado do Acordo de Paris em momentos anteriores, muitas iniciativas de transição energética já estão em andamento e não podem ser revertidas.

Por fim, a pesquisadora alerta que o tempo é um fator crítico na luta contra as mudanças climáticas. Quanto mais cedo as questões climáticas forem tratadas, melhor será para o futuro do planeta. Se as ações tivessem sido tomadas há 30 anos, a situação atual poderia ser bem diferente. A urgência em abordar a crise climática é primordial, e é necessário que a sociedade como um todo reconheça a gravidade da situação e aja de forma coordenada para enfrentar os desafios que estão por vir.