Turismo na Amazônia enfrenta desafios devido à crise climática
Impactos da seca afetam o turismo na Amazônia.
Notícia publicada em 12/01/2025 09:33 - #sociedade_comportamento
O estado do Amazonas, especialmente a cidade de Manaus, está enfrentando uma das piores secas de sua história. Em dezembro, o calor é intenso e os níveis dos rios estão extremamente baixos, o que tem gerado preocupações tanto entre os especialistas quanto entre a população local. Durante um passeio de lancha até o ponto onde os rios Negro e Solimões se encontram, é possível observar áreas que deveriam estar submersas, mas que agora estão expostas devido à falta de água.
Essa situação de seca afeta diretamente o turismo, que é uma das principais fontes de renda para muitos ribeirinhos e comunidades indígenas da região. Rodrigo Amorim, um guia turístico e capitão de lancha, explica que a estiagem tem dificultado a realização de atividades turísticas, como a pesca do pirarucu e a observação de jacarés, que são populares entre os visitantes. Com a diminuição do volume de água, muitos locais que costumavam ser navegáveis agora estão inacessíveis, o que resulta em uma queda significativa no número de turistas.
Daniel Hanrori, um indígena do povo Tukano, também compartilha suas preocupações. Ele lidera uma aldeia que abriga 38 pessoas de diferentes etnias e, durante a seca, muitos membros da comunidade precisam se deslocar para um acampamento próximo ao rio, onde vivem de forma improvisada para tentar atrair os poucos turistas que ainda aparecem. Ele menciona que, em tempos normais, a aldeia recebe cerca de 50 a 60 lanchas por dia, mas durante a seca esse número cai drasticamente para apenas duas lanchas. Isso impacta não apenas o turismo, mas também a pesca, que se torna mais difícil e escassa.
A crise climática não é apenas um desafio para os ribeirinhos e indígenas, mas também para o turismo em geral na Amazônia. O turismo na região é fortemente ligado aos rios, e a diminuição do volume de água afeta atividades icônicas, como o famoso encontro das águas em Manaus. Além disso, a Praia de Ponta Negra, um dos principais pontos turísticos da cidade, foi interditada devido à baixa do Rio Negro, que não atingiu a cota mínima de segurança.
Isabel Grimm, professora e especialista em meio ambiente, destaca que a crise climática também traz à tona a responsabilidade do setor de turismo em relação ao meio ambiente. O turismo gera emissões de gases do efeito estufa, especialmente devido ao transporte aéreo, que é um dos maiores responsáveis por essas emissões. Além disso, o uso excessivo de água e energia nos locais turísticos também contribui para os impactos ambientais. Isabel defende a necessidade de repensar o turismo de massa e buscar alternativas que causem menos danos aos ecossistemas.
Uma solução que vem sendo implementada é o turismo de base comunitária, que busca envolver as comunidades locais na gestão do turismo e garantir que os benefícios sejam compartilhados. Um exemplo é o programa promovido pelo Instituto Mamirauá, que atua na região do Rio Solimões desde 1998. O programa visa não apenas a conservação dos recursos naturais, mas também o empoderamento das comunidades locais e o desenvolvimento econômico e social. A Pousada Uacari, que faz parte desse programa, oferece aos visitantes uma experiência imersiva na Amazônia, ao mesmo tempo em que gera renda para as comunidades envolvidas.
Pedro Nassar, coordenador do programa, explica que o turismo comunitário deve ser diferente do turismo de massa, priorizando a participação efetiva das comunidades na gestão e planejamento das atividades turísticas. Os moradores que participam do programa trabalham em um sistema de rodízio e cada hóspede da Pousada Uacari contribui com uma taxa que é destinada a projetos comunitários.
Ilana Ribeiro Cardoso, uma artesã do quilombo de Mumbuca, no Tocantins, também se inspira nas iniciativas de turismo comunitário. Ela tem trabalhado para organizar experiências autênticas que permitam aos turistas conhecer a cultura e a história de sua comunidade. No entanto, Ilana expressa sua preocupação com os impactos de um turismo não sustentável, que pode ameaçar as nascentes e a biodiversidade da região.
Ela defende que o turismo deve ser sustentável e gerido pela própria comunidade, garantindo que os recursos naturais sejam preservados e que os benefícios econômicos sejam distribuídos de forma justa. A experiência de Ilana e de outros membros da comunidade mostra que o turismo pode ser uma ferramenta poderosa para a conservação ambiental e o desenvolvimento local, desde que seja feito de maneira responsável e sustentável.
Essa reportagem faz parte da série "Em Defesa da Amazônia", que discute os impactos das mudanças climáticas e as respostas necessárias para lidar com esses desafios. A série é uma preparação para a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá em Belém, no próximo mês de novembro.