Governo lança programa para aumentar diversidade racial no comércio exterior
Iniciativa busca ampliar a inclusão de negros no setor.
Notícia publicada em 07/11/2024 16:38 - #sociedade_comportamento
Nos últimos anos, a presença de trabalhadores negros e pardos no comércio exterior brasileiro tem crescido, mas a desigualdade racial ainda é um problema significativo. Um estudo recente da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), parte do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), revelou que, apesar do aumento na contratação de negros e negras, a representatividade em cargos de liderança e a disparidade salarial permanecem alarmantes. Para enfrentar essa situação, o governo federal lançou um novo programa chamado Raízes Comex, que visa aumentar a inclusão de trabalhadores negros e negras nas empresas de importação e exportação.
O programa foi apresentado pelo vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. A iniciativa tem como objetivo não apenas aumentar a quantidade de trabalhadores negros no setor, mas também fortalecer a visibilidade internacional dos produtos e serviços oferecidos por empreendedores negros. O governo espera que, com o apoio de entidades como a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), seja possível mobilizar o setor empresarial para promover a diversidade racial e aumentar a participação de profissionais negros no comércio exterior.
Resultados do Estudo
O estudo intitulado "Comércio Exterior e Representatividade Racial no Mercado de Trabalho Brasileiro" revelou que, entre 2011 e 2021, a porcentagem de trabalhadores negros em empresas exportadoras aumentou de 34% para 41%. Nas empresas importadoras, esse número subiu de quase 40% para 48%. No entanto, quando se observa apenas os cargos de liderança, a situação é menos favorável. Em 2021, apenas 20% das posições de direção e gerência nas empresas exportadoras eram ocupadas por trabalhadores negros, enquanto nas importadoras esse número era de 34%. Para comparação, em empresas que não atuam no comércio exterior, a proporção de trabalhadores negros em cargos de direção é de 23,6% e em gerência é de 34,5%.
Além disso, o estudo apontou que a disparidade salarial entre trabalhadores negros e brancos é ainda mais acentuada nas empresas que atuam no comércio exterior. Em média, um trabalhador negro recebe apenas 61% do salário de um empregado branco que desempenha a mesma função. As mulheres negras enfrentam uma situação ainda mais desafiadora, recebendo salários médios inferiores aos homens de seus próprios grupos raciais. Curiosamente, mulheres brancas em cargos de liderança tendem a ganhar mais do que homens negros, o que evidencia a complexidade da discriminação racial e de gênero no mercado de trabalho.
Importância da Inclusão
A secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, enfatizou a relevância do estudo, destacando que as empresas que participam do comércio exterior são geralmente mais inovadoras e produtivas. Ela ressaltou que a inclusão da população negra nesse setor é fundamental não apenas para a justiça social, mas também para o fortalecimento da economia brasileira. "Fazer com que a população negra participe desta atividade é algo que nos interessa", afirmou Prazeres, ressaltando que a diversidade pode melhorar o posicionamento dos produtos brasileiros no mercado internacional.
Prêmio de Inclusão e Diversidade Racial
Como parte do programa Raízes Comex, o MDIC, em parceria com a ApexBrasil, lançará o 1º Prêmio de Inclusão e Diversidade Racial no Comércio Exterior. Este prêmio será destinado a empresas que tenham pessoas negras em posições de liderança e que demonstrem compromisso com a diversidade. Serão selecionadas 27 empresas que receberão apoio público para participar de eventos de promoção comercial internacional.
Capacitação e Oportunidades
Além do prêmio, o governo também planeja oferecer cursos de capacitação para jovens negros interessados em atuar no comércio exterior. Serão disponibilizadas 200 vagas semestrais para um curso online de auxiliar em comércio exterior, além de 200 vagas para um curso presencial de assistente, que será oferecido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Esses cursos visam preparar os jovens para o mercado de trabalho e aumentar a presença de negros no comércio exterior.
O vice-presidente Alckmin destacou que a pesquisa e o programa representam uma oportunidade para impulsionar a inclusão racial no comércio exterior. Ele enfatizou a importância de criar políticas públicas que não sejam apenas temporárias, mas que promovam mudanças duradouras na estrutura do mercado de trabalho brasileiro. Com essas iniciativas, o governo espera não apenas aumentar a diversidade racial, mas também contribuir para um comércio exterior mais justo e representativo.