Estudo aponta desigualdade racial no comércio exterior brasileiro
Desigualdade racial no comércio exterior é alarmante.
Notícia publicada em 07/11/2024 16:02 - #sociedade_comportamento
Um estudo recente realizado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), que faz parte do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), revelou que, apesar de um aumento na presença de trabalhadores negros e pardos nas empresas de comércio exterior, a desigualdade racial continua a ser um problema significativo. Os resultados do estudo foram apresentados na última quinta-feira (7) e mostram que, entre 2011 e 2021, a porcentagem de negros e negras contratados por empresas exportadoras subiu de 34% para 41%. Nas empresas importadoras, esse número aumentou de quase 40% para 48% no mesmo período.
No entanto, quando se observa apenas os cargos de liderança, a situação é ainda mais preocupante. Em 2021, apenas 20% das posições de direção e gerência nas empresas exportadoras eram ocupadas por trabalhadores negros. Nas importadoras, esse número não ultrapassou 34%. Para efeito de comparação, em empresas que não atuam no comércio exterior, a proporção de trabalhadores negros em cargos de direção é de 23,6% e em cargos de gerência é de 34,5%.
Diego de Castro, coordenador-geral de estudos de comércio exterior do Mdic, destacou que a disparidade salarial entre os grupos raciais é ainda mais acentuada nas empresas que atuam no comércio exterior. Em média, um trabalhador negro recebe apenas 61% do que um empregado branco ganha, mesmo que ambos exerçam as mesmas funções. Além disso, as mulheres negras enfrentam uma situação ainda mais desvantajosa, recebendo salários médios inferiores aos homens de seus próprios grupos raciais. Curiosamente, mulheres brancas em cargos de liderança ganham mais do que homens negros, o que evidencia a complexidade da discriminação racial e de gênero no mercado de trabalho.
O estudo, que é inédito no Brasil, pode servir como uma ferramenta importante para a formulação de políticas públicas que visem aumentar a representatividade racial no comércio exterior. A secretária de Comércio Exterior do Mdic, Tatiana Prazeres, enfatizou a relevância da pesquisa, afirmando que as empresas que participam do comércio exterior tendem a ser mais inovadoras, produtivas e a oferecer melhores salários aos seus funcionários. Ela ressaltou que é fundamental que a população negra tenha mais oportunidades nesse setor, pois isso não só beneficia os trabalhadores, mas também melhora a imagem dos produtos e serviços brasileiros no mercado internacional.
Após a divulgação dos resultados, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, anunciaram um novo programa federal chamado Raízes Comex. Este programa tem como objetivo incentivar a contratação de mais trabalhadores negros e negras nas empresas importadoras e exportadoras. A iniciativa busca aumentar a visibilidade internacional dos produtos e serviços oferecidos por empreendedores negros, além de promover a diversidade racial no comércio exterior.
O programa contará com o apoio de várias entidades parceiras, como a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), e pretende mobilizar o setor empresarial para ações que promovam a inclusão racial. Além disso, ainda neste mês, o Mdic, em parceria com a ApexBrasil, lançará o 1º Prêmio de Inclusão e Diversidade Racial no Comércio Exterior. Este prêmio será destinado a empresas que tenham pessoas negras em posições de liderança e que atuem no comércio exterior, oferecendo apoio público para que essas empresas participem de eventos internacionais.
Anielle Franco destacou a importância de estudos como o do Mdic para a formulação de políticas públicas eficazes. Alckmin, por sua vez, considerou os resultados da pesquisa como uma oportunidade para impulsionar a presença de trabalhadores negros no comércio exterior. Ele mencionou que a primeira ação será o prêmio e a segunda, a capacitação de jovens para que possam se inserir nesse mercado.
Os cursos de capacitação serão oferecidos tanto na modalidade online quanto presencial, com o objetivo de atender jovens negros entre 15 e 29 anos. O curso online de auxiliar terá 90 horas de duração e disponibilizará 200 vagas semestrais. Já o curso de assistente, oferecido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), terá 160 horas e também contará com 200 vagas semestrais, distribuídas em várias cidades portuárias e aeroportuárias do Brasil.
Essas iniciativas visam não apenas aumentar a representatividade racial no comércio exterior, mas também garantir que as empresas reconheçam e valorizem a diversidade em seus quadros, o que é essencial para o fortalecimento da economia brasileira e para a promoção da justiça social.