Marilena Chauí fala sobre democracia e o impacto do digital
Marilena Chauí discute democracia e tecnologia.
Notícia publicada em 05/11/2024 08:17 - #sociedade_comportamento
Marilena Chauí, uma das filósofas mais respeitadas do Brasil, fez declarações impactantes sobre a situação da democracia no país durante uma entrevista ao jornalista Leandro Demori, no programa "DR com Demori", que será exibido na TV Brasil. Para ela, a democracia no Brasil é uma ilusão. Chauí argumenta que, para que exista uma verdadeira democracia, é necessário que haja uma sociedade democrática, o que, segundo ela, não é o caso no Brasil. Ela descreve a sociedade brasileira como autoritária, violenta e hierárquica, o que impede a formação de um Estado democrático.
Durante a conversa, Marilena enfatizou que os movimentos sociais devem ser considerados os novos protagonistas políticos do Brasil. Esses movimentos, segundo ela, têm a capacidade de unir pessoas em torno de objetivos comuns e na luta por direitos. "Os movimentos sociais são, por natureza, democráticos, pois lutam por novos direitos e pelo reconhecimento e garantia de direitos", afirmou. No entanto, ela também destacou um desafio importante: a falta de uma pauta unificada entre esses movimentos. Para Marilena, a ausência de um referencial comum impede que a sociedade avance em direção a uma política revolucionária.
Ela observou que, atualmente, muitos movimentos sociais estão se tornando cada vez mais fragmentados e focados em identidades específicas, como sexualidade ou tipos de maternidade e paternidade. Essa fragmentação, segundo ela, dificulta a criação de uma referência comum necessária para promover mudanças políticas e sociais significativas. Marilena acredita que a política deve ser uma expressão da qualidade da sociedade em que vivemos. "A política não corrige a sociedade, mas a expressa", disse.
Além de discutir a democracia, Marilena Chauí também abordou as mudanças trazidas pelo mundo digital. Ela argumentou que estamos vivendo uma verdadeira mutação civilizacional, não apenas uma mudança tecnológica. Para ela, a nova subjetividade que está surgindo é marcada pelo narcisismo, onde a existência está ligada à visibilidade. "Se você não é visto, você não existe", afirmou. Essa dependência do olhar do outro, segundo Marilena, pode levar a problemas sérios, como a depressão, especialmente entre os jovens. Ela relacionou essa busca desesperada por validação ao aumento dos casos de suicídio entre essa faixa etária.
Marilena também comentou sobre as mudanças na economia e na estrutura social que a tecnologia trouxe. Ela mencionou o surgimento do "precariado", uma nova classe de trabalhadores que se vê como empresário de si mesmo, mas que, na verdade, representa a desaparição da figura da classe trabalhadora. Essa nova realidade, segundo ela, gera uma ilusão de autonomia, mas na verdade dispersa as relações sociais e políticas que antes eram mais concretas e organizadas.
A filósofa concluiu sua análise ressaltando que a vida política em uma democracia deve ser caracterizada pela criação, garantia e conservação de direitos. Para ela, o poder é social e deve se manifestar nas decisões políticas. Portanto, a qualidade da política reflete a qualidade da sociedade. Marilena Chauí, com suas reflexões profundas, nos convida a pensar sobre o estado atual da democracia e o impacto das novas tecnologias em nossas vidas e relações sociais.