Venezuela critica Brasil por veto ao ingresso no Brics

Recentemente, o governo da Venezuela expressou sua indignação ao afirmar que o Brasil impediu sua entrada no grupo conhecido como Brics. O Brics é uma organização que reúne países como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e que tem como objetivo promover a cooperação econômica e política entre seus membros. A Venezuela, que tem interesse em se juntar ao grupo, ficou de fora das novas adesões anunciadas durante uma cúpula realizada em Kazan, na Rússia.

O Itamaraty, que é o ministério das Relações Exteriores do Brasil, respondeu às acusações venezuelanas afirmando que a decisão de não incluir a Venezuela foi baseada em critérios e princípios previamente estabelecidos para a adesão de novos membros. Segundo o governo brasileiro, a escolha dos países que podem se juntar ao Brics deve seguir diretrizes que garantam a harmonia e a cooperação entre os membros.

Na nota divulgada pelo ministério das Relações Exteriores da Venezuela, o governo expressou que o povo venezuelano se sente "indignado e envergonhado" pela decisão do Brasil, considerando-a uma "agressão inexplicável e imoral". Essa declaração reflete a tensão nas relações diplomáticas entre os dois países, especialmente após a reeleição do presidente Nicolás Maduro em julho deste ano, uma eleição que foi contestada por diversos organismos internacionais e pelo próprio Brasil.

Durante a cúpula em Kazan, a Rússia convidou 13 países para se tornarem membros associados do Brics, mas a Venezuela não estava entre eles. Os países da América Latina que foram selecionados incluem Cuba e Bolívia. Além disso, na lista de novos membros estão também nações como Nigéria, Turquia, Malásia e Indonésia. Essa seleção foi feita após um consenso entre os dez países que já fazem parte do Brics.

O presidente russo, Vladimir Putin, que se encontrou com Maduro durante a cúpula, comentou sobre a situação, afirmando que respeita a posição do Brasil em relação à eleição na Venezuela, mesmo que não concorde com ela. Putin expressou esperança de que as relações entre Brasil e Venezuela possam ser resolvidas de forma bilateral e elogiou o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, descrevendo-o como uma pessoa "decente e honesta".

O Itamaraty, por sua vez, esclareceu que não se trata de vetar a entrada de um país específico, mas sim de estabelecer critérios que devem ser seguidos para a inclusão de novos membros no Brics. O embaixador Eduardo Paes Saboia, que é o secretário de Ásia e Pacífico do Ministério de Relações Exteriores, destacou que entre os critérios estão a defesa da reforma da ONU, a rejeição a sanções econômicas unilaterais e a manutenção de relações amigáveis com todos os países membros do grupo.

A professora Maria Elena Rodríguez, que coordena um grupo de pesquisa sobre o Brics na PUC do Rio de Janeiro, comentou que a posição do Brasil é coerente, dado que as relações entre Brasil e Venezuela não são amigáveis no momento. Ela ressaltou que não é viável ter no bloco países com os quais o Brasil não mantém boas relações, citando também a Nicarágua, que também havia manifestado interesse em se juntar ao Brics.

As relações entre Brasil e Nicarágua se deterioraram a tal ponto que, em agosto deste ano, ambos os países expulsaram seus embaixadores após desentendimentos. O Brasil, a pedido do Papa Francisco, estava tentando intermediar a libertação de um bispo preso na Nicarágua, o que não agradou ao governo de Daniel Ortega.

Diante desse cenário, a situação entre Brasil e Venezuela continua tensa, e a decisão de não incluir a Venezuela no Brics pode ser vista como um reflexo das complexas relações diplomáticas na região. O futuro das relações entre os dois países e a possibilidade de uma nova tentativa de adesão da Venezuela ao Brics ainda permanecem incertos, mas a diplomacia brasileira parece firme em sua posição atual.