Estudo do Unicef revela desafios na prevenção da dengue
Estudo aponta dificuldades na prevenção da dengue.
Notícia publicada em 24/10/2024 11:47 - #saude
A prevenção da dengue e de outras doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como zika e chikungunya, é um tema de grande importância para a saúde pública. Apesar de muitas pessoas saberem que é fundamental evitar água parada para impedir a proliferação do mosquito, um novo estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgado recentemente, mostra que apenas informar a população sobre esses cuidados não é suficiente para provocar mudanças efetivas nos hábitos de prevenção.
O estudo, que contou com o apoio da biofarmacêutica Takeda, revela que a adoção de práticas de prevenção está relacionada a uma série de fatores que vão além do simples conhecimento sobre a doença. Segundo Luciana Phebo, chefe de saúde do Unicef no Brasil, existe uma diferença significativa entre o que as pessoas afirmam que fazem e o que realmente incorporam em suas rotinas diárias.
Fatores que influenciam a prevenção
O estudo identificou três níveis de fatores que impactam a adoção de práticas de prevenção: psicológicos, sociológicos e estruturais.
Fatores psicológicos
No nível psicológico, um dos principais aspectos é a percepção de risco. Muitas pessoas que nunca tiveram dengue tendem a subestimar a gravidade da doença. A percepção de risco pode aumentar durante epidemias, mas tende a diminuir quando não há surtos. Além disso, as práticas de prevenção, como a limpeza de calhas e caixas d'água, são vistas como tarefas difíceis e que demandam tempo, o que pode desestimular as pessoas a realizá-las.
Outro ponto importante é o custo financeiro. Em áreas mais vulneráveis, as pessoas podem não ter recursos para investir em produtos como repelentes ou para realizar a limpeza de locais que acumulam água.
Fatores sociológicos
No que diz respeito aos fatores sociológicos, a organização coletiva é um aspecto relevante. O estudo aponta que a participação em organizações de bairro está associada a um aumento nas práticas de prevenção. No entanto, em muitas comunidades, as pessoas não se conhecem e não se sentem parte de um grupo, o que dificulta a mobilização coletiva para cuidar do ambiente.
A influência comunitária também desempenha um papel importante. Muitas pessoas se sentem moralmente obrigadas a seguir práticas de prevenção que acreditam ser esperadas delas, mas essa pressão social pode não ser suficiente em comunidades onde a organização é fraca.
Fatores estruturais
Os fatores estruturais incluem a estrutura urbana das comunidades. A falta de serviços de coleta de lixo e a presença de terrenos baldios contribuem para o descarte inadequado de resíduos, o que pode criar ambientes propícios para a reprodução do mosquito.
A atuação dos agentes de saúde é fundamental para a diminuição das arboviroses. No entanto, em algumas regiões, a falta de agentes ou a desconfiança da população em relação aos órgãos de governo pode dificultar a adesão às orientações de saúde.
Recomendações para melhorar a prevenção
Diante dos desafios identificados, o estudo traz algumas recomendações para melhorar a prevenção das arboviroses. Uma das sugestões é associar o controle do mosquito a comportamentos que a população já considera desejáveis, como manter a casa limpa e não jogar lixo na rua.
Outra recomendação é aumentar a percepção de risco, especialmente em relação às crianças. Os pais tendem a se preocupar mais com a saúde dos filhos, e essa preocupação pode ser utilizada em campanhas de comunicação para engajar a comunidade em ações preventivas.
Além disso, o estudo sugere a redução dos custos e esforços necessários para a adoção de comportamentos de prevenção, bem como o aumento dos investimentos em infraestrutura. Melhorias na limpeza urbana e na coleta de lixo podem facilitar a adesão da população às medidas de prevenção.
Por fim, o Unicef destaca a importância de engajar a comunidade em ações coletivas e de promover discussões sobre o tema. A participação ativa da população é essencial para garantir um ambiente saudável e livre de doenças.
Luciana Phebo ressalta que é fundamental garantir o direito das crianças a viver em um ambiente livre de doenças, pois isso impacta não apenas a saúde física, mas também a frequência escolar e a rotina das crianças. O estudo busca contribuir para a formulação de políticas públicas e ações de comunicação que promovam mudanças de comportamento necessárias para o combate ao Aedes aegypti.