Evento na Fiocruz discute uso de tecnologia em crises sanitárias

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está sediando a Reunião Anual da Rede Pasteur 2024, que acontece até a próxima quinta-feira, dia 23. Este evento é uma oportunidade para pesquisadores de diversas partes do mundo trocarem conhecimentos sobre como a ciência e a tecnologia podem ajudar a enfrentar crises sanitárias, como epidemias e pandemias. Um dos principais focos das discussões é o uso da inteligência artificial (IA) na prevenção e no controle de doenças.

A Rede Pasteur é composta por mais de 30 institutos que atuam em 25 países e cinco continentes, todos dedicados a enfrentar os desafios de saúde global. A organização é reconhecida como um importante parceiro da Organização Mundial de Saúde (OMS) e busca promover a inovação e a saúde pública através da ciência.

Na cerimônia de abertura, o médico e pesquisador da Fiocruz, Manoel Barral Netto, enfatizou a necessidade de integrar diferentes fontes de dados e tecnologias para melhorar a resposta às demandas de saúde pública. Ele mencionou a experiência do Brasil durante a pandemia de covid-19, onde a análise dos dados de vacinação foi crucial para entender a eficácia das vacinas aplicadas na população.

"Nossa pesquisa mostrou que os dados brasileiros de vacinação têm volume e qualidade necessários para avaliar vários aspectos essenciais que guiam ações de saúde pública. É possível montar um sistema contínuo para monitorar a eficácia da vacina e da vacinação brasileira, se tudo for combinado e estruturado corretamente", afirmou Manoel Netto.

Outro destaque do evento foi a fala de Peter Piot, pesquisador da London School of Hygiene & Tropical Medicine, que ressaltou a importância de alinhar discursos e colaborações para enfrentar os problemas de saúde que o mundo enfrenta atualmente. Ele mencionou três categorias de ameaças que precisam ser consideradas:

1. Ameaças conhecidas: Epidemias que podem ocorrer a qualquer momento, como a resistência microbiana.
2. Ameaças que esperamos que não aconteçam: Situações como desastres nucleares e bioterrorismo, que exigem preparação.
3. Ameaças em andamento: Mudanças climáticas que impactam diretamente a saúde global e as práticas de pesquisa.

Os participantes do evento também discutiram o papel da inteligência artificial na pesquisa em saúde. Amadou Sall, presidente da Rede Pasteur e administrador geral do Institut Pasteur de Dakar, destacou que a IA tem revolucionado a análise de dados e o diagnóstico, permitindo respostas mais rápidas às crises de saúde. Ele alertou, no entanto, que é fundamental garantir que essas tecnologias sejam acessíveis a todos e utilizadas de forma ética, para que não aumentem as desigualdades existentes.

"A inteligência artificial revolucionou a nossa análise de dados e o nosso diagnóstico, permitindo que a gente tenha uma resposta mais rápida às crises. A IA tem um potencial para aumentar nossa capacidade preditiva e também pode nos ajudar a responder melhor às pandemias. No entanto, é nossa responsabilidade garantir que essas tecnologias sejam acessíveis para todos. E ela precisa ser utilizada com ética para reduzir a disparidade e a desigualdade", disse Sall.

O evento na Fiocruz é uma importante plataforma para discutir como a ciência e a tecnologia podem ser aliadas na luta contra as crises sanitárias que o mundo enfrenta. A troca de experiências e conhecimentos entre os pesquisadores pode contribuir para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes na prevenção e controle de doenças, especialmente em um mundo cada vez mais afetado por mudanças climáticas e novas ameaças à saúde pública.