Estudo revela conexão entre emprego, renda e justiça climática

Estudo mostra como raça e emprego se conectam.

Estudo revela conexão entre emprego, renda e justiça climática

Notícia publicada em 23/01/2025 20:17 - #sociedade_comportamento


A relação entre emprego e renda está diretamente ligada à justiça climática, segundo um estudo recente do Centro Brasileiro de Justiça Climática (CBJC). O boletim intitulado "Emprego e Renda" revela que as populações vulneráveis, especialmente as pessoas negras, são as mais afetadas pelos eventos climáticos extremos e pela emergência climática. Essa situação é ainda mais crítica para as mulheres negras, que enfrentam desafios adicionais em termos de empregabilidade e acesso a renda.

A coordenadora de pesquisa do CBJC, Taynara Gomes, destaca que a vulnerabilidade das populações é um fator crucial a ser considerado. Em uma entrevista à Agência Brasil, ela afirma que aqueles que estão em situações de insegurança, como a falta de moradia e a dificuldade em recompor a renda, estão mais expostos aos impactos da crise climática. Taynara enfatiza a necessidade de analisar os dados de forma segmentada, levando em conta a raça e o gênero, para entender melhor como a crise climática afeta diferentes grupos da sociedade.

Desigualdades no mercado de trabalho

O boletim aponta que os trabalhadores negros recebem, em média, 60% do salário dos trabalhadores brancos, mesmo quando possuem a mesma qualificação. Além disso, a taxa de informalidade no trabalho é significativamente maior entre as pessoas negras, com 43,4% de pretos e 47% de pardos trabalhando de forma informal, em comparação com 32,7% de brancos. Essa desigualdade se reflete também nas posições de liderança, onde 69% dos cargos são ocupados por pessoas brancas, enquanto pretos e pardos ocupam apenas 29,5% dessas posições.

A situação de desemprego é alarmante, com 65,1% das pessoas negras na faixa de desocupação. A insegurança em relação à posse de moradia também é um problema, afetando 10% dos brancos, 19,7% dos pretos e 20,8% dos pardos. Taynara ressalta que a população negra é a que menos tem acesso a uma renda estável e ao mercado formal de trabalho, o que a leva a ocupar posições informais e a receber os menores salários.

O papel das mulheres

As mulheres também enfrentam desafios significativos no mercado de trabalho. Nove em cada dez trabalhadores domésticos são mulheres, e entre elas, 65% são mulheres negras. Além disso, as mulheres dedicam, em média, 9,6 horas a mais por semana em tarefas de cuidado em comparação com os homens. As mulheres negras, em particular, realizam 92,7% das atividades domésticas, o que evidencia a sobrecarga que enfrentam.

Situação no campo

No contexto rural, a situação é igualmente preocupante. A maioria dos trabalhadores na agricultura familiar é composta por pessoas negras, que muitas vezes trabalham em condições não reconhecidas e não formalizadas. Isso resulta em menos acesso a políticas públicas e a programas de apoio, além de dificuldades em obter tecnologias adequadas para o trabalho agrícola. O estudo revela que 54,4% da agricultura familiar é composta por pessoas pretas e pardas, e 60% dos trabalhadores do campo estão na informalidade.

A desigualdade se torna ainda mais evidente quando se observa que sete em cada dez agricultores negros possuem menos de 0,1 hectare de terra, enquanto oito em cada dez agricultores brancos têm 10 mil hectares ou mais. Essa disparidade torna as comunidades negras mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas, como queimadas e pressões do agronegócio. Taynara menciona que muitas famílias não têm sua situação fundiária regulamentada, o que as torna ainda mais suscetíveis à insegurança da terra.

Na região amazônica, por exemplo, as comunidades frequentemente enfrentam isolamento devido a secas, resultando em insegurança alimentar. Os ciclos climáticos, como sol, chuva e alagamento, têm mudado, e essas populações não têm acesso a políticas formais que possam mitigar ou reparar os impactos dessas mudanças.

Conclusão

O estudo do CBJC evidencia que a vulnerabilidade das populações já marginalizadas se intensifica com a crise climática. A interseção entre emprego, renda e justiça climática é crucial para entender como as desigualdades sociais se manifestam em tempos de crise. Taynara conclui que, em cenários climáticos extremos, a vulnerabilidade das populações que já enfrentavam dificuldades se acentua ainda mais, exigindo uma abordagem mais inclusiva e sensível às questões raciais e de gênero nas discussões sobre justiça climática.


Wiki: Centro Brasileiro de Justiça Climática (organização)
O Centro Brasileiro de Justiça Climática (CBJC) é uma organização não governamental brasileira que atua na promoção da justiça climática e na defesa dos direitos humanos em face das mudanças climáticas. Fundado em 2015, o CBJC busca integrar a justiça social e ambiental nas discussões sobre polít... Ver wiki completa