Senegalês agredido por policiais em São Paulo permanece com fragmento na cabeça
Senegalês agredido por policiais em São Paulo.
Notícia publicada em 23/01/2025 13:32 - #sociedade_comportamento
Um jovem senegalês foi agredido por policiais militares na última quinta-feira, dia 16, no bairro do Brás, em São Paulo. Durante a abordagem, ele foi atingido na cabeça com uma arma do tipo taser, que é utilizada para imobilizar pessoas. Após a agressão, o jovem foi submetido a uma cirurgia, mas, infelizmente, os médicos informaram que ele ainda possui um fragmento do projétil alojado na cabeça. O médico responsável pela cirurgia afirmou que realizar um novo procedimento para remover o fragmento seria muito arriscado, o que significa que a chance de o jovem viver com essa lesão pelo resto da vida é bastante alta.
A abordagem policial ocorreu enquanto o senegalês estava passeando e fazendo compras. Segundo a advogada Ananda Endo, que faz parte do Programa Trabalhadores Ambulantes do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, os policiais alegaram que o jovem teria cometido lesão corporal, o que gerou um boletim de ocorrência. Além disso, um haitiano que estava presente no local também foi acusado de desacato.
O atestado médico que foi emitido para o senegalês confirma a presença do fragmento na caixa craniana. Os médicos recomendaram que ele carregasse esse documento para evitar constrangimentos em lugares que exigem a passagem por detectores de metais, como agências bancárias.
A advogada Ananda Endo declarou que a equipe jurídica está buscando apoio da Defensoria Pública para tomar medidas de reparação contra o Estado, devido às consequências permanentes que a agressão trouxe para a saúde do jovem. Ela enfatizou a gravidade da situação e a necessidade de responsabilização dos envolvidos.
Na quarta-feira, dia 22, representantes do centro de defesa de direitos humanos se reuniram com Mauro Caseri, o ouvidor das Polícias do Estado de São Paulo, para formalizar uma denúncia sobre o caso. Durante a reunião, o ouvidor expressou solidariedade e se comprometeu a tomar as devidas providências junto à Corregedoria da Polícia Militar. Uma das propostas discutidas foi a criação de um grupo de trabalho que se dedicaria a tratar da situação dos trabalhadores ambulantes, buscando uma abordagem mais organizada e com a participação de diferentes órgãos para reduzir a violência policial.
Além disso, a entidade de direitos humanos, em parceria com a vereadora Amanda Paschoal, do PSOL, protocolou uma representação no Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (Gaesp). Esse grupo tem como objetivo monitorar a conduta dos policiais e verificar se houve abuso de autoridade durante a abordagem.
O ano de 2024 já se mostrou alarmante em relação à violência policial no estado de São Paulo. Dados do Gaesp revelam que o número de mortes resultantes de intervenções policiais atingiu um recorde, com um aumento de 65% em comparação ao ano anterior. O total de mortes subiu de 542 em 2023 para 835 em 2024, o que representa o maior número registrado na última década.
A Polícia Militar, por sua vez, informou que um inquérito foi aberto para investigar o caso do senegalês agredido. No entanto, a corporação não esclareceu se os dois policiais envolvidos na agressão foram afastados de suas funções. A PM se limitou a afirmar que não tolera desvios de conduta e que pune rigorosamente aqueles que desobedecem aos protocolos estabelecidos.
Esse incidente levanta questões sérias sobre a atuação da polícia e a proteção dos direitos humanos, especialmente em relação a grupos vulneráveis, como os trabalhadores ambulantes. A expectativa é que as investigações avancem e que medidas efetivas sejam tomadas para evitar que situações como essa se repitam no futuro.