Crianças com Microcefalia Causada pelo Zika Têm Maior Risco de Internação
Estudo revela riscos de internação em crianças.
Notícia publicada em 22/01/2025 18:32 - #saude
A epidemia do vírus Zika, que afetou o Brasil em 2015, trouxe sérias consequências para a saúde pública, especialmente para os recém-nascidos. Um dos efeitos mais preocupantes dessa epidemia foi o aumento do número de bebês com microcefalia, uma condição caracterizada pela redução do tamanho da cabeça e que pode afetar o desenvolvimento neurológico das crianças. Um estudo recente realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que essas crianças apresentam um risco significativamente maior de internação hospitalar em comparação com aquelas que não foram afetadas pela síndrome congênita do Zika (SCZ).
O estudo, publicado na revista científica International Journal of Infectious Disease, analisou dados de aproximadamente 2 mil crianças diagnosticadas com SCZ e comparou com informações de 2,6 milhões de crianças que não apresentavam a síndrome. Os resultados mostraram que as crianças afetadas pelo Zika têm taxas de hospitalização entre três e sete vezes maiores do que as crianças saudáveis. Além disso, quando internadas, essas crianças permanecem no hospital por períodos consideravelmente mais longos.
Análise dos Dados
Os pesquisadores da Fiocruz coletaram informações sobre admissões hospitalares, principais motivos para internação e o tempo que as crianças passaram internadas durante os primeiros quatro anos de vida. Uma das descobertas mais alarmantes foi que, enquanto as taxas de hospitalização das crianças sem a síndrome diminuíram ao longo do tempo, as crianças com SCZ mantiveram altas taxas de internação durante todo o período analisado.
O médico responsável pelo estudo, João Guilherme Tedde, destacou que as crianças com microcefalia estão em risco de desenvolver doenças combinadas. Isso significa que, além das doenças comuns da infância, como infecções e problemas respiratórios, essas crianças enfrentam complicações diretamente relacionadas à SCZ. Essa situação cria um ciclo vicioso, onde cada condição pode agravar a outra, aumentando ainda mais a necessidade de cuidados médicos.
Sobre a Síndrome Congênita do Zika
A síndrome congênita do Zika é uma condição que pode levar a uma série de problemas de saúde. As crianças afetadas podem apresentar atrasos no desenvolvimento, deficiência intelectual, dificuldades motoras e de equilíbrio, convulsões, problemas de alimentação, perda auditiva e dificuldades visuais. O estudo da Fiocruz também revelou que a maioria das crianças que nasceram com a síndrome não sobreviveu ao primeiro ano de vida, com estimativas indicando cerca de 20 mil casos suspeitos da doença no Brasil.
A epidemia de Zika teve um impacto desproporcional nas comunidades mais vulneráveis, especialmente em famílias de baixa renda, que vivem em áreas com alta circulação de mosquitos. O principal vetor do vírus Zika é o mosquito Aedes aegypti, que também transmite outras doenças, como dengue e chikungunya. Os pesquisadores enfatizam a necessidade de desenvolver planos de cuidado estruturados para essas crianças, focando no manejo ambulatorial e no suporte às famílias afetadas.
Riscos Aumentados
Além dos riscos de hospitalização, o estudo da Fiocruz também revelou que as crianças com SCZ têm um risco de morte 30 vezes maior devido a doenças do sistema respiratório, 28 vezes maior para doenças infecciosas e 57 vezes maior para doenças do sistema nervoso. Esses dados ressaltam a gravidade da situação e a urgência de ações de saúde pública para proteger essas crianças.
Necessidade de Vacinação
Os autores do estudo destacam a urgência no desenvolvimento de uma vacina eficaz contra o vírus Zika. Instituições como a Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto Butantan estão trabalhando em pesquisas para criar uma vacina. Recentemente, o Ministério da Saúde intensificou as ações de combate a arboviroses, incluindo o Zika, para prevenir novas infecções e proteger a saúde da população.
O estudo da Fiocruz é um dos primeiros a avaliar os riscos de hospitalização em crianças com SCZ ao longo da primeira infância, e os resultados são um chamado à ação para que o sistema de saúde brasileiro se mobilize em defesa das crianças afetadas pelo Zika e suas famílias.