Bolsa Família ajuda a reduzir mortes de pessoas com transtornos mentais

Um estudo recente realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que o programa Bolsa Família tem um impacto positivo na redução das taxas de mortalidade entre pessoas que sofrem de transtornos mentais. A pesquisa foi publicada na revista científica PLOS Medicine, que é editada nos Estados Unidos.

Os pesquisadores da Fiocruz, localizados na Bahia, analisaram dados de aproximadamente 70 mil pacientes diagnosticados com transtornos mentais. O estudo comparou a mortalidade de pessoas que receberam o Bolsa Família após uma internação com aquelas que não foram beneficiadas pelo programa. Os dados utilizados cobrem o período de 2008 a 2015.

Os resultados mostraram que os beneficiários do Bolsa Família apresentaram uma redução de 11% na mortalidade por causas naturais, como doenças cardiovasculares e respiratórias, em comparação com aqueles que não recebiam o benefício. Além disso, a mortalidade total foi 7% menor entre os que estavam no programa.

O Bolsa Família foi criado em 2003 pelo governo federal e é considerado o maior programa de transferência de renda do Brasil. Ele é destinado a famílias cuja renda média mensal por membro não ultrapasse R$ 218. O valor mínimo do benefício é de R$ 600, podendo aumentar dependendo do número de gestantes, crianças e adolescentes na família. O principal objetivo do programa é garantir acesso à alimentação, saúde e educação, promovendo dignidade e cidadania. Para continuar recebendo o benefício, as famílias devem cumprir compromissos relacionados à saúde e à educação, como garantir que as crianças tenham pelo menos 85% de frequência escolar.

A coordenadora do estudo, Camila Bonfim, destacou que os requisitos para acesso ao Bolsa Família podem explicar os resultados positivos encontrados. Ela afirmou que o programa promove um melhor acesso a serviços de saúde e exames de rotina, o que contribui para a redução da mortalidade.

Os pesquisadores também notaram que programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, estão associados a diversos benefícios, incluindo a melhoria da segurança financeira e a redução da tensão financeira, fatores que podem influenciar tanto a mortalidade por causas naturais quanto não naturais, como suicídio e violência.

Embora o estudo tenha mostrado uma redução na mortalidade por causas naturais, a análise das mortes não naturais, que incluem violência, suicídio e acidentes, indicou uma redução, mas essa diminuição não foi considerada estatisticamente significativa.

Os pesquisadores também segmentaram os dados por idade e gênero. O impacto positivo do Bolsa Família foi mais acentuado entre mulheres e jovens. Entre os pacientes com idade entre 10 e 24 anos, o programa foi associado a uma redução de 44% na mortalidade por causas naturais e de 21% na mortalidade total.

Para as mulheres, a pesquisa revelou uma redução de 27% na mortalidade por causas naturais e de 25% na mortalidade total. Os pesquisadores estimaram que, se o Bolsa Família tivesse sido concedido a todos os pacientes hospitalizados com transtornos psiquiátricos, pelo menos 4% das mortes poderiam ter sido evitadas.

Esses resultados ressaltam a importância de assistência financeira para a população vulnerável, especialmente para aqueles que enfrentam problemas de saúde mental. Os pesquisadores enfatizam que as pessoas com transtornos psiquiátricos geralmente têm uma expectativa de vida menor do que a média da população, o que torna ainda mais crucial o desenvolvimento de estratégias de prevenção que envolvam diferentes setores da sociedade.

O estudo da Fiocruz é um importante passo para entender como programas sociais podem impactar a saúde da população e reforça a necessidade de políticas públicas que garantam o acesso a serviços de saúde e apoio financeiro para aqueles que mais precisam.