Desempenho do Partido Republicano nas Eleições Americanas
Republicanos conquistam maioria no Congresso dos EUA.
Notícia publicada em 06/11/2024 19:17 - #politica
O Partido Republicano teve um desempenho surpreendente nas eleições nos Estados Unidos, o que pode facilitar a aprovação de projetos do presidente Donald Trump. Os republicanos não apenas venceram a eleição presidencial, com Trump superando a candidata democrata Kamala Harris, mas também conquistaram a maioria dos assentos no Senado, que até então era controlado pelos democratas. Além disso, há uma expectativa de que eles também assumam o controle da Câmara dos Deputados.
Se a vitória na Câmara se confirmar, Trump, que já foi presidente de 2017 a 2021, terá uma base de apoio mais forte no Congresso. Isso significa que ele poderá contar com congressistas que, em teoria, estarão mais dispostos a ajudá-lo a cumprir suas promessas de campanha. Trump se referiu a essa situação como um "mandato sem precedentes" em seu discurso após a divulgação dos resultados.
O economista-chefe da empresa de tecnologia financeira Nomad, Danilo Igliori, comentou que a vitória de Trump não foi uma surpresa total, pois o mercado financeiro já havia feito apostas nesse sentido. No entanto, ele destacou que a expectativa era de uma disputa mais acirrada, o que torna o resultado geral surpreendente. Igliori classificou a vitória dos republicanos como "uma vitória maiúscula e incontestável".
Com essa nova configuração, Trump deve enfrentar menos resistência na implementação de suas propostas. Igliori observou que, com o controle do Congresso, Trump terá mais facilidade para aprovar sua agenda. No entanto, ele também alertou que, após as eleições, os políticos costumam adotar uma postura mais pragmática, o que pode influenciar a materialização de propostas mais agressivas.
O economista também mencionou que, sob a presidência de Trump, o mundo pode se tornar mais arriscado, especialmente em um contexto de incerteza global. Ele acredita que a economia global, que está se recuperando após a pandemia, não será fundamentalmente impactada por Trump, mas que haverá uma redução na globalização. O slogan de Trump, "Make America Great Again" (Tornar a América Grande Outra Vez), sugere que os Estados Unidos podem se tornar mais isolados e menos envolvidos em acordos comerciais internacionais.
Para o Brasil, essa nova realidade pode tornar o cenário mais complexo, já que o relacionamento com os Estados Unidos é crucial. No entanto, isso também pode abrir oportunidades, especialmente no relacionamento com a China. Se os Estados Unidos restringirem suas relações com a China, este país pode buscar fortalecer parcerias com outras nações, incluindo o Brasil.
O professor Roberto Goulart Menezes, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), também comentou sobre a vitória de Trump. Ele destacou que Trump não é exatamente um político isolacionista, mas sim alguém que adota uma abordagem de interesse nacional seletivo. Isso significa que os Estados Unidos podem não se envolver em todos os assuntos globais, permitindo que outros países lidem com questões que não são do seu interesse.
Goulart lembrou que, nos últimos anos, instituições multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), têm sido vistas como contrárias aos interesses dos Estados Unidos. Trump pode adotar uma postura mais brusca em relação a essas instituições, especialmente se não conseguir reformá-las para atender às suas necessidades.
O professor também expressou surpresa com o desempenho dos republicanos, já que as pesquisas indicavam uma disputa acirrada entre Trump e Harris. Ele observou que, apesar dos problemas legais enfrentados por Trump e da cobertura midiática negativa, a sua política ainda ressoou na memória dos eleitores. Mesmo com a melhora dos dados econômicos sob a administração de Joe Biden, a vitória de Trump mostra que ele e sua ala política mantêm controle sobre o partido.
Com a maioria no Congresso, Trump deve tentar implementar mudanças significativas, como reformas nas leis trabalhistas e de imigração, além de medidas para reduzir as despesas do governo. Essa vitória também pode fortalecer a extrema-direita em todo o mundo, o que pode ter consequências para as próximas eleições no Brasil.
Goulart concluiu que, embora Trump possa não conseguir realizar tudo o que deseja, a nova maioria no Senado e na Câmara aumenta suas chances de aprovar projetos sem grande resistência. Ele prevê que a política externa dos Estados Unidos se concentrará em três grandes temas: a guerra entre Ucrânia e Rússia, o conflito no Oriente Médio e as relações com a China. Para o Brasil, será necessário redobrar o pragmatismo e, se necessário, ajustar sua política externa para lidar com possíveis dificuldades comerciais que possam surgir.