Consumo de álcool no Brasil causa 12 mortes por hora, revela estudo
Estudo da Fiocruz aponta altos índices de mortalidade.
Notícia publicada em 05/11/2024 16:47 - #saude
Um estudo recente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que o consumo de álcool no Brasil é responsável por uma média alarmante de 12 mortes por hora. O levantamento, intitulado "Estimação dos custos diretos e indiretos atribuíveis ao consumo do álcool no Brasil", foi conduzido pelo pesquisador Eduardo Nilson, do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura (Palin), a pedido das organizações Vital Strategies e ACT Promoção da Saúde.
Os dados apresentados no estudo são baseados em informações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e mostram que, em 2019, o Brasil registrou um total de 104,8 mil óbitos relacionados ao consumo de álcool. Desses, 86% das mortes ocorreram entre homens, com quase metade dos casos associados a doenças cardiovasculares, acidentes e violência. As mulheres, que representaram 14% das mortes, tiveram mais de 60% dos casos relacionados a doenças cardiovasculares e diferentes tipos de câncer.
Além de abordar a questão das mortes, o estudo também analisou o impacto econômico do consumo de álcool no Brasil. Em 2019, o custo total foi estimado em R$ 18,8 bilhões. Desses, 78% (aproximadamente R$ 37 milhões) foram gastos com homens, enquanto 22% (cerca de R$ 10,2 milhões) foram atribuídos às mulheres. O estudo identificou que R$ 1,1 bilhão desse total foi gasto com custos diretos do Sistema Único de Saúde (SUS), que inclui hospitalizações e procedimentos ambulatoriais. Os restantes R$ 17,7 bilhões referem-se a custos indiretos, como perda de produtividade devido à mortalidade prematura, licenças e aposentadorias precoces, além de dias de trabalho perdidos por internações hospitalares e licenças médicas.
Eduardo Nilson, o pesquisador responsável pelo estudo, destacou que a pesquisa adotou uma abordagem conservadora, utilizando apenas dados oficiais de fontes públicas, como os do SUS e pesquisas do IBGE. Ele ressaltou que o levantamento não considerou os custos da rede privada de saúde, nem as perdas econômicas totais para a sociedade. Portanto, embora o valor de quase R$ 19 bilhões por ano já seja significativo, o custo real do consumo de álcool para a sociedade brasileira pode ser ainda maior.
Quando analisamos os custos de hospitalização por gênero, observamos que 20% do total gasto pelo SUS com mulheres está relacionado a problemas ligados ao álcool. Isso se deve, em parte, ao fato de que o consumo de álcool entre mulheres é menor. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, apenas 31% das mulheres relataram ter consumido álcool nos 30 dias anteriores à pesquisa, em comparação com 63% dos homens. Além disso, as mulheres tendem a buscar mais os serviços de saúde e a realizar exames de rotina, o que possibilita um tratamento mais precoce e evita complicações mais graves.
No que diz respeito aos custos de atendimento ambulatorial relacionados ao consumo de álcool, a diferença entre os gêneros diminui. Aproximadamente 51,6% dos custos são atribuídos ao público masculino. A faixa etária que mais utiliza os serviços ambulatoriais está entre 40 e 60 anos, com 55% dos custos referentes a mulheres e 47,1% a homens. Isso confirma que as mulheres buscam atendimento médico de forma mais precoce do que os homens, sendo responsáveis por quase metade dos atendimentos ambulatoriais, mesmo com uma menor prevalência de consumo de álcool entre elas.
Esses dados revelam a gravidade do problema do consumo de álcool no Brasil, não apenas em termos de saúde pública, mas também em relação ao impacto econômico que isso gera. A conscientização sobre os riscos associados ao consumo de álcool e a promoção de políticas públicas eficazes são essenciais para reduzir esses números alarmantes e proteger a saúde da população.