Julgamento de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz acontece na próxima quarta-feira

O caso do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes está prestes a ter um desfecho importante. Após mais de seis anos de investigações e reviravoltas, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, acusados de serem os responsáveis pelo crime, irão a júri popular na próxima quarta-feira, dia 30 de outubro. A decisão foi tomada pelo juiz Gustavo Kalil, que presidirá o julgamento no 4º Tribunal do Júri, localizado no Fórum Central do Rio de Janeiro.

A data do julgamento foi definida durante uma reunião que ocorreu no dia 12 de outubro, onde estiveram presentes representantes do Ministério Público, assistentes de acusação e a defesa dos réus. O juiz Kalil pediu que apenas as pessoas diretamente envolvidas no júri comparecessem ao tribunal, com o objetivo de evitar aglomerações e possíveis tumultos durante o processo.

Marielle Franco, que era vereadora pelo PSOL, foi assassinada em 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro. Naquela noite, ela voltava de um evento que promovia a luta das mulheres negras na Lapa, quando seu carro foi atingido por diversos disparos. O motorista Anderson Gomes também foi atingido e não sobreviveu. Uma assessora que estava com Marielle ficou ferida por estilhaços, mas conseguiu escapar com vida. O crime chocou o Brasil e o mundo, sendo considerado um ataque à democracia e aos direitos humanos.

A investigação do caso foi complexa e envolveu várias instâncias policiais. Após um longo período de apurações, os ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio Queiroz foram presos. Recentemente, outros indivíduos, como os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, foram detidos, sendo apontados como mandantes do crime, além do ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa. O processo que envolve esses supostos mandantes está em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF).

O Instituto Marielle Franco, que luta pela justiça no caso, considera o julgamento um momento crucial. Em uma nota, a organização expressou que foram 78 meses e mais de 2 mil dias de luta desde que Marielle e Anderson foram assassinados. Eles destacam a importância do júri popular como um passo significativo na busca por justiça, não apenas para as vítimas, mas para todos que acreditam em um Brasil mais justo, onde a vida de mulheres, pessoas negras, LGBTQIAPN+ e moradores de favelas seja respeitada e protegida.

A Anistia Internacional, que também acompanha o caso, afirmou que o julgamento é um passo importante na busca por justiça, que começou há mais de seis anos. No entanto, a ONG ressalta que a verdadeira justiça só será alcançada quando todos os responsáveis pelo crime, incluindo aqueles que planejaram e obstruíram as investigações, forem levados à justiça em julgamentos que atendam aos padrões internacionais.

A Anistia Internacional também destacou que o Brasil é um dos países mais perigosos para defensores dos direitos humanos. De acordo com um relatório da Global Witness, em 2023, o Brasil ocupou a segunda posição no ranking de países que mais matam ativistas e ambientalistas, com 25 mortes registradas. Entre 2012 e 2023, 401 defensores de direitos humanos foram assassinados no país. A ONG enfatiza que é dever do Estado brasileiro garantir justiça e reparação para as famílias das vítimas e implementar medidas que evitem que tragédias como essa se repitam.

Em um ato de mobilização, a família de Marielle Franco realizará uma missa no Cristo Redentor no próximo domingo, dia 27 de outubro. A cerimônia será organizada por sua mãe, Marinete Silva, seu pai, Antonio Francisco, e sua filha, Luyara Franco. Além disso, no dia do julgamento, o Instituto Marielle Franco, a Anistia Internacional e outras organizações que fazem parte do Comitê Justiça por Marielle e Anderson planejam um ato em memória da vereadora e do motorista, que ocorrerá às 7h em frente à sede do Tribunal de Justiça do Rio. Ativistas e familiares se reunirão com faixas, cartazes e lenços, exigindo justiça e reparação para as vítimas.

O julgamento de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz representa um momento de esperança para muitos que lutam por justiça no Brasil, e a expectativa é que esse processo possa trazer respostas e um senso de justiça para a sociedade.