Aumento de Denúncias de Violência Contra a População LGBTQIA+

Cresce a violência contra a população LGBTQIA+.

Aumento de Denúncias de Violência Contra a População LGBTQIA+

Notícia publicada em 26/10/2024 11:32 - #sociedade_comportamento


Nos últimos anos, o número de denúncias de violência contra a população LGBTQIA+ no Brasil tem aumentado de forma alarmante. De acordo com dados do Disque 100, um serviço do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, foram registradas 5.741 denúncias até setembro deste ano. Esse número é um reflexo de um crescimento significativo em relação aos anos anteriores, onde em 2022 foram contabilizadas 3.948 denúncias e em 2021, 6.070. Isso mostra que a violência contra essa comunidade não é um problema novo, mas sim uma questão persistente que merece atenção e ação imediata.

A maioria das denúncias foi feita por homens gays, mas as principais vítimas de agressões são pessoas transexuais e travestis. O professor Ricardo de Mattos Russo, do Departamento de Enfermagem de Saúde Pública da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), destaca que a violência contra a população LGBTQIA+ já era evidente em pesquisas anteriores, como a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, que já mostrava uma alta prevalência de violência, especialmente contra mulheres.

O aumento das denúncias pode ser atribuído a uma maior afirmação e visibilidade da população LGBTQIA+, que está mais consciente de seus direitos e disposta a denunciá-los. O professor Russo também menciona que estamos vivendo um momento político de resistência, onde grupos LGBTQIA+ estão se posicionando contra a chamada "sociedade tradicional", o que pode estar alimentando um clima de intolerância e ódio no Brasil.

Perfil dos Denunciantes e Vítimas

O perfil dos denunciantes é predominantemente de homens gays brancos, com idades entre 20 e 40 anos. A professora Carla Appollinário de Castro, do Departamento de Direito Privado da UFF, explica que esse grupo é visto como sujeito de direitos, enquanto muitas vítimas, como mulheres transexuais e travestis, não se sentem representadas e, portanto, não denunciam as agressões que sofrem. Isso se deve à exclusão e opressão que essas pessoas enfrentam diariamente.

Um exemplo claro dessa violência é o caso de Ariela Nascimento, uma estudante da Universidade Federal Fluminense (UFF) que foi agredida em Cabo Frio. Ariela e seu namorado, Bruno, foram atacados por um grupo de homens após uma ofensa transfóbica. A ativista relata que, mesmo após conseguir escapar, enfrentou mais transfobia ao buscar ajuda médica, onde ela e sua amiga foram tratadas com desrespeito e negligência.

Estatísticas Alarmantes

Dados do Observatório Nacional dos Direitos Humanos (ObservaDH) revelam que, em 2022, 11.120 pessoas LGBTQIA+ foram vítimas de agressões motivadas por sua orientação sexual ou identidade de gênero. As pessoas transexuais e travestis foram as mais afetadas, representando 38,5% dos casos. As agressões mais comuns incluem violência física, psicológica e sexual, com um total de 7.792 casos de violência física registrados.

As motivações para essas agressões geralmente estão ligadas à intolerância, discriminação e ignorância. Além disso, muitos agressores são pessoas conhecidas das vítimas, como ex-parceiros ou amigos, o que torna a situação ainda mais complexa e dolorosa.

A Luta por Justiça

Ariela Nascimento, após sua experiência traumática, se comprometeu a não deixar que seu caso caia no esquecimento. Ela acredita que é fundamental dar visibilidade a essas situações e lutar por justiça. O Brasil, que já foi considerado um dos países mais perigosos para a população LGBTQIA+, precisa de ações efetivas para combater essa violência.

Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou a LGBTQIA+fobia ao racismo, criminalizando a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero. Essa decisão foi um passo importante, mas ainda há muito a ser feito. Em 2023, a legislação foi atualizada para que ofensas à comunidade LGBTQIA+ sejam tratadas como injúria racial, tornando esses crimes imprescritíveis e sem direito a fiança.

A Necessidade de Mudanças

Apesar das mudanças legais, a simples existência de leis não é suficiente para transformar a sociedade. É necessário um olhar mais profundo sobre a educação e a conscientização em relação à diversidade sexual e de gênero. A professora Carla Castro enfatiza que é preciso discutir a orientação sexual e a identidade de gênero desde a infância, para que as futuras gerações possam viver em um ambiente mais respeitoso e inclusivo.

Ariela Nascimento, que também é assessora parlamentar, destaca a importância de não apenas focar na dor e na violência, mas também em mostrar que pessoas LGBTQIA+ podem ser bem-sucedidas e contribuir para a sociedade. Ela quer que sua história inspire outras pessoas a lutarem por seus direitos e a não se deixarem abater pela violência.

A luta pela igualdade e pelo respeito à diversidade é um caminho longo, mas necessário. A sociedade precisa se unir para combater a violência e a discriminação, garantindo que todos possam viver com dignidade e segurança, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero.


Wiki: LGBTQIA+ (grupo social)
O termo LGBTQIA+ refere-se a um grupo social que abrange diversas identidades de gênero e orientações sexuais. A sigla é um acrônimo que representa as seguintes categorias: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queer, Intersexuais, Assexuais e o símbolo de adição (+) que inclui outras identid... Ver wiki completa