Desafios da Gestão Integrada na Prefeitura de São Paulo

A prefeitura de São Paulo enfrenta um grande desafio na implementação de uma gestão integrada, onde o prefeito, as secretarias e as subprefeituras trabalhem em conjunto. Essa dificuldade foi apontada por especialistas em uma análise sobre a administração municipal, especialmente em um momento em que a cidade se prepara para o segundo turno das eleições municipais, marcado para o próximo domingo (27). Os eleitores paulistanos terão que escolher entre o atual prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), e o candidato do PSOL, Guilherme Boulos.

Cid Blanco, arquiteto e urbanista, destaca que a gestão integrada é fundamental para que a cidade funcione de maneira mais eficiente. Segundo ele, é comum que cada secretário trabalhe de forma isolada, sem uma visão conjunta que priorize as necessidades da população. "Isso dá muito mais trabalho, pois não é a questão política que vem em primeiro lugar, é o povo", afirma Blanco, que possui experiência em planejamento e gestão de programas de redução da pobreza urbana.

Fernando Túlio, professor do Departamento de Arquitetura da Universidade ETH Zurique, também comenta sobre a importância de uma gestão urbana integrada e democrática. Ele menciona que existem cidades que conseguiram implementar modelos de gestão que priorizam a coletividade. Em Zurique, por exemplo, 25% das propriedades são geridas de forma cooperativa, e há uma lei que exige que esse número aumente para 30% até 2030. "Esse modelo poderia ser adotado em São Paulo e no Brasil, especialmente em áreas que precisam de regularização fundiária e urbanização", sugere Túlio.

Outro ponto importante levantado pelos especialistas é a necessidade de uma aproximação entre a população e a gestão municipal. O loteamento político, que se refere à distribuição de cargos nas subprefeituras, tem prejudicado a eficácia dessas administrações locais. Jorge Abrahão, coordenador-geral do Instituto Cidades Sustentáveis, explica que as subprefeituras foram criadas para descentralizar a administração e atender melhor as demandas locais. No entanto, elas acabaram sendo utilizadas como ferramentas políticas, o que comprometeu sua função original.

Abrahão critica o fato de que as subprefeituras se tornaram responsáveis apenas por questões de zeladoria, como poda de árvores e tapa-buracos, em vez de atuarem em questões estruturais que realmente impactam a vida dos cidadãos. Ele defende que as subprefeituras deveriam ser espaços de participação popular, onde a voz da população fosse ouvida e considerada nas decisões administrativas. "As pessoas têm se desmotivado pela falta de consequência à dedicação que a população tem nesses locais", lamenta.

A desigualdade social é outro aspecto que se agrava com a falta de uma gestão integrada. Fernando Túlio aponta que o modelo atual prioriza investimentos em áreas privilegiadas, enquanto as periferias continuam a ser negligenciadas. Além disso, as políticas de transporte têm favorecido o uso de veículos motorizados em detrimento do transporte público e da mobilidade sustentável, como ciclovias e calçadas. Essa situação contribui para o aumento da segregação urbana e da poluição ambiental.

Para que a gestão da cidade de São Paulo seja realmente eficaz, é necessário não apenas reverter o modelo de planejamento, mas também redesenhar a forma como a administração é conduzida. A fragmentação das políticas setoriais e o esvaziamento das subprefeituras são problemas estruturais que precisam ser enfrentados para que a cidade possa atender melhor às necessidades de todos os seus habitantes.

Em resumo, a gestão integrada é um desafio crucial para a prefeitura de São Paulo, especialmente em um momento eleitoral. A aproximação com a população e a reestruturação das subprefeituras são passos fundamentais para que a cidade possa se desenvolver de forma mais justa e sustentável, atendendo às demandas de todos os seus cidadãos.