Entidades se manifestam contra a demissão do presidente da Faperj

A possível demissão de Jerson Lima Silva, presidente da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), gerou uma onda de indignação entre a comunidade científica. No dia 23 de agosto, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) enviaram uma carta ao governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, expressando sua "intensa preocupação" com os rumores de exoneração de Lima.

Além disso, o Fórum de Reitores das Instituições Públicas de Ensino do Estado do Rio de Janeiro (Friperj) também se manifestou, pedindo a permanência de Jerson Lima no cargo. Uma petição pública, que já conta com mais de 10 mil assinaturas, foi criada na internet para apoiar a continuidade de sua gestão.

Embora a decisão do governador ainda não tenha sido publicada no Diário Oficial, Jerson Lima já foi informado oficialmente sobre sua substituição. A reportagem tentou contato com o governo do estado, mas ainda aguarda um posicionamento.

A Faperj, criada em 1980 e vinculada à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação, tem como objetivo fomentar a ciência, tecnologia e inovação no estado do Rio de Janeiro. A fundação é responsável por conceder bolsas e auxílios a pesquisadores e instituições, estimulando atividades nas áreas científica e tecnológica. Atualmente, cerca de 9 mil bolsistas de instituições federais, estaduais e privadas estão ligados à Faperj.

Na carta enviada ao governador, as entidades ressaltam que a liderança de Jerson Lima é fundamental para a promoção da ciência, tecnologia e inovação no estado. Elas pedem que a escolha do novo líder da Faperj não se transforme em uma indicação partidária. "Dirigimos assim um apelo para que não faça da direção da FAPERJ um cargo de indicação partidária, e que mantenha a conduta que V. Exa. tem tido nos últimos 6 anos", afirmam na carta. As entidades expressam sua preocupação com as possíveis mudanças que podem impactar a trajetória de sucesso da Faperj.

A petição pública também destaca a importância da Faperj e do trabalho realizado por Jerson Lima. Os autores afirmam que, devido à competência do professor, a Faperj se tornou uma das principais agências de fomento do Brasil. O currículo de Jerson Lima é elogiado por suas contribuições científicas reconhecidas tanto no Brasil quanto no exterior. A comunidade acadêmica valoriza sua transparência e eficiência, características essenciais para o sucesso da Faperj.

O professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Amílcar Tanuri, é um dos signatários da petição. Em entrevista à Radioagência Nacional, ele expressou sua preocupação com a possível troca na presidência da Faperj. "O Jerson vem tendo uma atuação exemplar frente à Faperj, desde a pandemia e até antes da pandemia, com as emergências todas de saúde pública, como o zika e o chikungunya. Ele vem tendo uma atuação muito exemplar e firme, com uma competência muito grande", afirmou Tanuri.

Ele também destacou que a continuidade do apoio à ciência é uma responsabilidade importante, pois mudanças repentinas podem impactar laboratórios e pesquisas significativas. "Quando você apoia a ciência, é uma coisa de muita responsabilidade, porque laboratórios e pesquisas importantes podem ser perdidas por uma simples parada de financiamento ou uma mudança repentina no rumo de uma fundação. Então, a coisa mais importante para a ciência e para a tecnologia é a constância de suporte", completou.

Os reitores que compõem o Friperj ressaltaram que a Faperj tem sido um pilar para a comunidade científica do estado, proporcionando avanços valiosos na infraestrutura e no funcionamento do sistema de ciência, tecnologia e inovação. Eles afirmam que o papel estratégico da Faperj é garantido pela continuidade do repasse de recursos financeiros pelo governo do estado, coordenado pela presidência da fundação, através de editais públicos que avaliam com transparência o mérito científico dos projetos.

Jerson Lima Silva é médico, doutor em Biofísica e pesquisador titular da UFRJ. Ele é membro da Academia Mundial de Ciências, da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina. Antes de assumir a presidência da Faperj em janeiro de 2019, ele atuou como Diretor Científico da fundação entre 2003 e 2018. A comunidade científica aguarda ansiosamente por uma definição sobre seu futuro à frente da Faperj.