Debate na Uerj aborda cotas raciais e inclusão na educação

A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) é reconhecida por ser uma das pioneiras na implementação de cotas raciais no Brasil. Recentemente, a instituição promoveu um debate importante sobre ações afirmativas na educação, reunindo pesquisadores de diversas áreas para discutir a importância dessas políticas no combate à discriminação de grupos étnico-raciais, idosos e refugiados. O evento ocorreu no dia 22 de outubro de 2024 e trouxe à tona dados e reflexões sobre a desigualdade racial e a inclusão no ensino superior.

O professor Luiz Augusto Campos, que atua no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Uerj e no Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), apresentou dados significativos sobre a desigualdade racial na ciência. Ele destacou que, entre 2002 e 2021, a proporção de alunos pretos, pardos e indígenas matriculados em instituições de ensino superior público aumentou de 31% para 52%. Em contrapartida, a porcentagem de alunos brancos e amarelos caiu de 69% para 47% no mesmo período. Essa mudança é atribuída à Lei de Cotas, que foi sancionada em 2012 e tem desempenhado um papel crucial na promoção da diversidade nas universidades.

Luiz Augusto enfatizou que as cotas não são apenas uma política de favorecimento, mas sim uma forma de mitigar as desigualdades que existiam antes de sua implementação. Ele afirmou que as cotas ajudam a reconfigurar o ensino superior público no Brasil, alinhando-o com as prerrogativas constitucionais que garantem igualdade de oportunidades. Para ele, as cotas são essenciais para justificar a própria existência do ensino superior público, que deve ser acessível a todos os segmentos da sociedade.

Outro ponto importante discutido no evento foi apresentado pela professora Maria Teresa Tedesco, do Instituto de Letras da Uerj. Ela falou sobre o Programa Varia-Idade, que começou em 2015 e analisa as experiências de idosos em diferentes bairros do Rio de Janeiro. O objetivo da pesquisa é coletar dados que possam influenciar a formulação de políticas públicas voltadas para a população idosa. Maria Teresa destacou a necessidade de garantir um atendimento adequado em áreas como saúde, educação e bem-estar para os idosos, que muitas vezes são marginalizados na sociedade.

"Com o aumento da expectativa de vida, é fundamental que haja políticas sociais que assegurem um bom atendimento às pessoas idosas. Precisamos garantir que elas sejam incluídas na sociedade e não fiquem à margem", afirmou a professora.

A professora Érica Sarmiento, do Departamento de História e da Cátedra Sérgio Vieira de Mello da Uerj, também participou do debate, trazendo à tona questões relacionadas aos refugiados no Brasil. Ela mencionou a criação de uma lei estadual que facilita a entrada de refugiados, apátridas e imigrantes com visto humanitário nas universidades públicas. A Uerj foi a primeira a realizar um vestibular específico para esse grupo em 2023.

Érica ressaltou que a inclusão de refugiados enriquece a comunidade acadêmica e a sociedade como um todo, promovendo uma troca de saberes e experiências culturais. "A responsabilidade com o outro implica proporcionar acolhimento. A universidade deve ser um espaço de recepção e defesa dos direitos humanos, promovendo um ambiente de aprendizado mútuo", disse a pesquisadora.

O evento na Uerj foi uma oportunidade valiosa para discutir a importância das ações afirmativas na educação e como elas podem contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. As reflexões apresentadas pelos pesquisadores destacaram a necessidade de continuar avançando nas políticas de inclusão, garantindo que todos os grupos sociais tenham acesso à educação de qualidade e possam participar ativamente da vida acadêmica e social do país.