Estudo sugere que Brasil pode ser carbono negativo até 2045

Transição energética pode reduzir emissões no Brasil.

Estudo sugere que Brasil pode ser carbono negativo até 2045

Notícia publicada em 22/10/2024 09:47 - #meio_ambiente


Um estudo recente, divulgado pelo Observatório do Clima (OC), apresenta um plano que pode ajudar o Brasil a reduzir suas emissões de gases do efeito estufa em até 80% até o ano de 2050. Essa pesquisa, que foi publicada na última terça-feira (22), sugere que o país pode se tornar uma referência mundial ao se tornar a primeira grande economia a sequestrar mais gases do efeito estufa do que emite, alcançando um status de carbono negativo até 2045.

O estudo propõe uma série de medidas que, se implementadas, poderiam atender à crescente demanda de energia do Brasil, mesmo com um crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,1% ao ano. As ações sugeridas incluem a eliminação de subsídios governamentais para combustíveis fósseis, como petróleo, gás natural e carvão mineral, além de mudanças significativas na Petrobras e no modelo de desenvolvimento energético do país.

Atualmente, as emissões do setor energético brasileiro estão projetadas para atingir 558 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO₂e) em 2050, mesmo considerando os compromissos já assumidos pelo governo e pelas empresas do setor. No entanto, com a adoção das medidas propostas, essa cifra poderia ser reduzida para 102 milhões de toneladas.

Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, enfatiza que essas iniciativas não apenas ajudariam a mitigar as emissões, mas também promoveriam uma justiça climática e uma economia mais sustentável. Ela afirma: "Demonstra que podemos alterar rotas equivocadas e contribuir no setor de energia para que o Brasil se torne um país carbono negativo até o ano de 2045."

Diretrizes para a Transição Energética

As diretrizes sugeridas pelo estudo incluem um aumento na utilização de energias renováveis, como solar e eólica, além do desenvolvimento de novas tecnologias de armazenamento de energia. Também é proposto o investimento em hidrogênio verde e biocombustíveis, além da eletrificação do transporte público, priorizando esse tipo de transporte em relação ao uso de veículos particulares nas áreas urbanas.

Outra recomendação importante é redirecionar os subsídios atualmente dados aos combustíveis fósseis para apoiar a transição energética. O estudo também sugere que a exploração de petróleo deve ser interrompida, revertendo propostas que visam abrir novos poços, como na Foz do Amazonas.

Para que essas mudanças sejam efetivas, a Petrobras precisaria se transformar em uma empresa focada em energia com investimentos robustos em fontes de baixo carbono, reduzindo gradualmente sua produção de petróleo, mas mantendo seu valor no mercado.

Sustentabilidade e Impactos Sociais

O estudo destaca que o setor energético é responsável por apenas 17,8% das emissões brutas de gases do efeito estufa no Brasil. A transição energética é vista como um elemento crucial para a política climática do país, pois traz mudanças duradouras, ao contrário do controle do desmatamento, que pode ser revertido rapidamente com mudanças de governo.

Além disso, o estudo também analisa os impactos socioambientais das novas fontes de energia renovável e da mineração de metais estratégicos, como lítio e cobre, que são essenciais para a transição energética. Os pesquisadores alertam para possíveis problemas, como a degradação das terras das populações tradicionais e a criação de empregos de baixa qualidade.

Para garantir que a transição energética seja justa, é fundamental que haja a participação das comunidades afetadas e um arcabouço regulatório que aborde esses desafios. O estudo sugere que o Brasil deve desenvolver políticas que minimizem os impactos negativos e promovam uma relação mais harmoniosa entre os projetos de energia renovável e as comunidades locais.

Oportunidades e Desafios no Transporte

O transporte de passageiros é identificado como uma área com grande potencial para a redução rápida das emissões. Para que essa área reduza suas emissões de 102 milhões de toneladas de CO₂e para apenas 16 milhões de toneladas, o estudo sugere a substituição da gasolina por etanol nos veículos flex e a eletrificação gradual da frota.

Por outro lado, o transporte de cargas, que no Brasil é predominantemente rodoviário, enfrenta desafios maiores. O alto custo das baterias para caminhões pesados e a necessidade de substituir outros componentes tornam a eletrificação desse setor um processo mais lento.

Em resumo, o estudo do Observatório do Clima apresenta um caminho viável para que o Brasil se torne um líder na transição energética, promovendo não apenas a redução das emissões, mas também a justiça social e a sustentabilidade. Com a implementação das diretrizes propostas, o país pode se posicionar como um exemplo global na luta contra as mudanças climáticas.


Wiki: Observatório do Clima (organização)
O Observatório do Clima é uma rede de organizações da sociedade civil brasileira que atua na promoção de políticas públicas voltadas para a mitigação das mudanças climáticas e a promoção da justiça socioambiental. Fundado em 2002, o Observatório do Clima reúne diversas entidades, pesquisadores e ... Ver wiki completa