Entenda o impasse na gestão do Hospital Federal de Bonsucesso

O Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), localizado na zona norte do Rio de Janeiro, enfrenta um momento crítico em sua gestão. O Ministério da Saúde decidiu transferir a administração do hospital para o Grupo Hospitalar Conceição (GHC), uma empresa pública do Rio Grande do Sul. Essa mudança ocorre em meio a um cenário de sucateamento e necessidade urgente de melhorias na infraestrutura e nos serviços oferecidos pela unidade.

O HFB, que já foi um importante centro de atendimento à saúde, atualmente apresenta diversos problemas. Entre as principais questões estão a necessidade de ampliação do quadro funcional, a reabertura de 210 leitos que estão fechados devido à falta de equipamentos e pessoal, além da recuperação do serviço de emergência e do centro cirúrgico. O novo gestor, GHC, tem a responsabilidade de resolver essas questões em um prazo de 90 dias, com a expectativa de que o serviço de emergência e os leitos sejam reabertos gradualmente.

A escolha do GHC para gerenciar o HFB se deu, segundo o Ministério da Saúde, pela experiência da empresa em atender o Sistema Único de Saúde (SUS) e por sua atuação em situações de emergência, como no Haiti e em crises climáticas no Rio Grande do Sul. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, destacou que o GHC é um exemplo de gestão hospitalar de qualidade e que sua atuação será fundamental para melhorar os serviços de saúde no Rio de Janeiro.

O diretor-presidente do GHC, Gilberto Barichello, mencionou que a primeira medida a ser tomada é a substituição do cabeamento da subestação de energia elétrica do hospital, que atualmente não suporta a demanda necessária para reabrir a unidade. Além disso, o telhado de parte do hospital precisa ser trocado, pois está danificado e impede o funcionamento de leitos. Barichello afirmou que a licitação para a troca do telhado será feita de forma urgente, com a expectativa de que os leitos sejam reabertos em até 90 dias.

O GHC, que possui mais de 64 anos de experiência em saúde, é uma das maiores redes públicas de hospitais da região Sul do Brasil, com um atendimento totalmente voltado para o SUS. A estrutura do GHC inclui quatro hospitais, um centro de oncologia, uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e diversos postos de saúde. Anualmente, a rede realiza milhões de atendimentos, incluindo cirurgias e partos, e conta com um quadro de mais de 10 mil profissionais.

Para a nova gestão do HFB, o GHC poderá contratar até 2.252 profissionais de saúde em vagas temporárias, priorizando aqueles que residem no Rio de Janeiro. O edital para essas contratações foi publicado recentemente, e o processo seletivo faz parte das ações para fortalecer a administração do hospital. Os servidores federais que já trabalham no HFB terão a opção de continuar na unidade ou solicitar transferência para outras instituições.

Durante a transição, os direitos dos servidores serão preservados, e os atuais trabalhadores do HFB, que são do regime estatutário, terão seus direitos garantidos. Os profissionais temporários que já atuam no hospital também poderão participar do processo seletivo. A contratação temporária terá duração inicial de 60 dias, podendo ser prorrogada, enquanto o GHC avalia a real necessidade de pessoal para o funcionamento pleno do hospital.

Entretanto, a transição não ocorreu sem controvérsias. No dia 19, a entrada das equipes do GHC no hospital foi dificultada por um bloqueio realizado por servidores organizados pelo Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social no Estado do Rio de Janeiro (Sindsprev-RJ). Os manifestantes se opuseram à transferência de gestão e exigiram que o hospital permanecesse sob a administração pública direta do Ministério da Saúde. Apesar das multas diárias impostas pela justiça, os manifestantes mantiveram o bloqueio, prometendo permanecer até uma audiência de conciliação.

A situação no HFB é um reflexo de um problema maior que envolve a gestão de hospitais federais no Rio de Janeiro. O Ministério da Saúde planeja transferir a gestão de outras unidades, como o Hospital Federal do Andaraí e o Hospital Federal dos Servidores, para diferentes administrações. Essa reestruturação tem gerado críticas e resistência por parte de servidores e sindicatos, que temem a fragmentação dos serviços de saúde.

O Hospital Federal de Bonsucesso, com uma área construída de mais de 42 mil metros quadrados, é uma unidade estratégica para a saúde pública no estado do Rio de Janeiro. Desde um incêndio em 2020, a situação do hospital se deteriorou, resultando no fechamento de serviços essenciais. A expectativa é que a nova gestão do GHC traga melhorias significativas, mas o caminho para a recuperação do HFB ainda é incerto e repleto de desafios.