Música gospel ganha data nacional e mobiliza comunidades

A música gospel, um gênero musical que tem se tornado cada vez mais popular no Brasil, agora tem uma data especial para ser celebrada. O Dia da Música Gospel foi oficialmente instituído para ser comemorado no dia 9 de junho. Essa decisão foi sancionada pelo presidente Lula e representa um reconhecimento importante para a comunidade evangélica e para a cultura musical do país.

Um exemplo inspirador é o de Samuel Silva, um jovem de 18 anos que vive no bairro de Vasco da Gama, em Recife. Samuel carrega uma caixa de isopor com trufas de chocolate que sua mãe faz para ele vender na porta da igreja. Ele sonha em comprar um contrabaixo, que custa R$ 800, e para isso, precisa vender todas as trufas a R$ 2 cada. Para ele, a música gospel é mais do que um hobby; é uma paixão que o transforma e traz paz. Após dois anos de esforço, ele finalmente conseguiu comprar seu contrabaixo e também aprendeu a tocar violão.

Samuel não apenas toca e canta, mas também ensina música a crianças e adolescentes da sua comunidade. Ele acredita que a música tem um significado profundo e é uma forma de conectar as pessoas. "Quando os mais novos nos veem com instrumentos, perguntam como que faz para tocar", diz ele, mostrando como a música gospel pode inspirar e educar as novas gerações.

O professor de sociologia Paulo Gracino de Souza Junior, da Universidade de Brasília (UnB), explica que a música gospel ocupa um lugar central na vida dos evangélicos. Ele destaca que essa música é ouvida em diversas igrejas e doutrinas, e não se limita apenas ao público evangélico. O Dia da Música Gospel é uma forma de dar visibilidade a essa cultura, que muitas vezes é ofuscada por representações ligadas à Igreja Católica.

A música gospel tem se espalhado por diversos espaços da sociedade, incluindo supermercados e festas, alcançando pessoas que não são necessariamente evangélicas. Isso mostra como a música gospel se tornou parte da cultura popular brasileira. O professor também menciona que as igrejas desempenham um papel importante nas comunidades periféricas, oferecendo não apenas um espaço de adoração, mas também oportunidades de aprendizado e desenvolvimento pessoal.

Rivanilson Alves, conhecido como Rivas, é um músico de Brasília que toca na banda Bethel Band. Ele se converteu à igreja evangélica no início dos anos 2000 e acredita que a criação de um dia dedicado à música gospel é importante, mas ressalta que existem diferentes estilos dentro desse gênero. Rivas menciona que a música gospel já incorporou ritmos como o pagode e o samba, refletindo a realidade das comunidades periféricas. Para ele, a música é uma forma de expressão que pode abordar questões sociais e culturais.

Por outro lado, Isaias Campos, um músico carioca de 59 anos, também expressa sua opinião sobre a nova data. Ele aprendeu a tocar pandeiro na igreja e acredita que as igrejas precisam superar preconceitos em relação a estilos musicais que vêm da periferia. Isaias observa que a música gospel tem um apelo comercial, e as gravadoras estão cada vez mais interessadas nesse nicho de mercado. Para ele, o importante é a qualidade da música, independentemente de ser cristã ou não.

O professor Samuel Gomes de Souza, que também é evangélico, vê o Dia da Música Gospel como um ato político que busca aproximar o governo das lideranças evangélicas. Ele critica o termo "gospel", afirmando que ele não reflete a realidade da música produzida nas comunidades.

A enfermeira Angélica dos Santos, de 45 anos, é outra voz importante nesse debate. Ela é cantora e compositora na igreja e acredita que a música é uma forma de servir à comunidade. Angélica começou a cantar na adolescência e agora quer ensinar outros jovens a se conectarem com a música, assim como ela fez. Para ela, a música é um vínculo de adoração a Deus e também uma forma de criar laços entre as pessoas.

Histórias como a de Denilson Pereira, um jovem de 34 anos que encontrou esperança na música após passar por dificuldades, mostram o impacto positivo que a música gospel pode ter na vida das pessoas. Denilson aprendeu a tocar bateria na igreja e acredita que a música foi fundamental para sua recuperação e esperança.

Com a criação do Dia da Música Gospel, espera-se que mais pessoas reconheçam a importância desse gênero musical e como ele pode unir comunidades, promover a cultura e oferecer oportunidades de aprendizado e crescimento pessoal. A música gospel, portanto, não é apenas uma forma de adoração, mas também uma ferramenta poderosa de transformação social.