Repatriação de Libaneses: A Difícil Decisão de Voltar ao Brasil

A situação no Líbano tem se tornado cada vez mais crítica, levando muitos cidadãos a buscarem refúgio em outros países. Um exemplo disso é a história de Ahmad Nazar, que, após anos vivendo no Brasil, decidiu trazer sua família de volta para o país. Ahmad, que tem 39 anos, perdeu seu pai, Hassan, em um bombardeio israelense em 1986, quando tinha apenas 6 anos. A tragédia familiar o marcou profundamente e, agora, ele se vê novamente em uma situação de conflito, mas desta vez, como pai de três filhos.

No último sábado, 19 de agosto, Ahmad reencontrou sua esposa Zeinab e seus filhos Lamis, de 12 anos, Sajed, de 10, e Farah, de um ano e meio, na Base Aérea de Guarulhos, após um voo de mais de 15 horas que partiu de Beirute. Eles estavam entre os 212 passageiros do sexto voo da Operação Raízes do Cedro, uma iniciativa do governo brasileiro que visa resgatar cidadãos brasileiros que se encontram no Líbano em meio a um cenário de guerra.

A família Nazar estava na cidade de Arabsalim, onde Ahmad cresceu e onde seu pai foi morto. Recentemente, os ataques israelenses se intensificaram, tornando a situação insustentável. Ahmad expressou sua preocupação: "Não dá mais para viver no Líbano. Não tem mais nenhuma região segura." Ele relatou que, antes, apenas a região Sul do país era considerada perigosa, mas agora a insegurança se espalhou por todo o território.

A decisão de trazer sua família para o Brasil foi difícil, mas necessária. Ahmad e Zeinab tinham planos de educar os filhos no Líbano, enquanto Ahmad trabalhava em São Paulo e visitava a família. No entanto, a escalada da violência forçou a mudança de planos. A operação de repatriação, que já trouxe 1.317 pessoas de volta ao Brasil, incluindo crianças, idosos e até animais de estimação, foi uma luz de esperança para muitos que se sentiam ameaçados.

O voo KC-30 da Força Aérea Brasileira (FAB) pousou em Guarulhos às 07h28, trazendo não apenas a família Nazar, mas também outros repatriados que enfrentaram situações semelhantes. Ahmad compartilhou que sua mãe e seus irmãos ainda estão no Líbano, enfrentando a mesma realidade aterrorizante. Ele mostrou fotos e vídeos de sua casa em ruínas, que foi destruída por um bombardeio. "Um só míssil é capaz de destruir um prédio." Ele relatou que a casa vizinha à de sua família também foi atingida, forçando seus parentes a buscarem abrigo em locais mais seguros.

Entre os repatriados, estava Leila Hadi, que lamentou não ter conseguido trazer suas irmãs que ainda estão no Líbano. Ela viveu na região do Vale do Bekaa e descreveu a situação como assustadora. "Qualquer ruído mais forte me faz lembrar dos bombardeios." Leila revelou que o barulho do avião a fez sentir medo, um reflexo do trauma que muitos estão enfrentando.

Outro repatriado, Mohamed Elgandur, também expressou sua preocupação com a família que ficou no Líbano. Ele alterna sua vida entre os dois países e, embora tenha filhos e netos no Brasil, a saúde de sua esposa o impediu de trazê-la. Mohamed estava na região do Bekaa, onde os bombardeios eram frequentes, e admitiu que o medo era constante. "Dizer que não dava medo é mentira. A maior preocupação é com a família."

A Operação Raízes do Cedro tem sido um esforço significativo para ajudar aqueles que se encontram em situações de risco no Líbano. Até agora, a operação já repatriou 1.317 pessoas, incluindo 242 crianças e 12 gestantes. A situação no Líbano continua a ser uma preocupação para muitos, e a repatriação é uma alternativa para aqueles que buscam segurança e um futuro melhor.

As histórias de Ahmad, Leila e Mohamed são apenas algumas das muitas que refletem a realidade difícil enfrentada por muitos libaneses. A busca por segurança e estabilidade é um desejo comum, e a repatriação para o Brasil representa uma nova esperança para essas famílias.