Famílias de Brumadinho pedem novo protocolo de saúde

Recentemente, um estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) trouxe à tona preocupações sérias sobre a saúde das crianças que vivem em Brumadinho, Minas Gerais. O levantamento revelou a presença de metais pesados na urina de crianças de 0 a 6 anos que residem na área afetada pelo rompimento da barragem da mineradora Vale, ocorrido há seis anos. Diante dessa situação alarmante, integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) se reuniram no último sábado (25) para exigir a criação de um protocolo de saúde específico para monitorar e tratar as consequências da tragédia.

A manifestação, que ocorreu no centro de Brumadinho, foi organizada pela Associação dos Familiares das Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem em Brumadinho (Avabrum), e marcou o sexto aniversário do desastre. Durante o ato, Joceli Andrioli, um dos coordenadores do MAB, expressou a preocupação com o aumento da contaminação na região. Ele destacou que a situação é crítica, pois a contaminação não afeta apenas as crianças, mas também os adultos, animais e plantas. "Precisamos de um protocolo específico para enfrentar esse cenário. Estamos muito preocupados porque cada vez o nível de contaminação aumenta no sangue das pessoas, nos animais, em todas as plantas. Tudo isso traz problemas sérios de saúde", afirmou Joceli.

O rompimento da barragem da Vale liberou uma grande quantidade de rejeitos, causando impactos ambientais e socioeconômicos significativos. A tragédia resultou na perda de 272 vidas, incluindo dois bebês de mulheres grávidas. Desde então, a luta por justiça e reparação tem sido uma constante para as famílias afetadas.

Resultados do Estudo da Fiocruz

O estudo da Fiocruz, divulgado na sexta-feira (24), analisou amostras de sangue e urina coletadas em 2023, quatro anos após a tragédia. Os resultados mostraram que todas as crianças avaliadas apresentaram pelo menos um dos cinco metais pesados: cádmio, arsênio, mercúrio, chumbo e manganês. Comparando com análises anteriores de 2021, a situação se agravou. Por exemplo, o percentual de crianças com níveis de arsênio acima do valor de referência aumentou de 42% para 57%.

Os pesquisadores da Fiocruz esclareceram que os resultados indicam uma exposição aos metais, mas não necessariamente uma intoxicação, que requer avaliação clínica mais detalhada. Eles recomendam que todos os participantes da pesquisa que apresentaram níveis elevados de metais façam uma avaliação médica para entender melhor a situação de saúde de cada um.

Além das crianças, a pesquisa também analisou a saúde dos adultos. O arsênio foi encontrado em níveis elevados em cerca de 20% das amostras de urina de adultos, sendo o metal mais frequentemente detectado acima dos limites de referência. Por outro lado, entre os adolescentes, houve uma diminuição no percentual de amostras com metais acima dos valores de referência entre 2021 e 2023.

Outro ponto importante levantado pelo estudo foi o aumento na prevalência de algumas condições de saúde. O colesterol alto, por exemplo, passou de 4,7% em 2021 para 10,1% em 2023. Além disso, doenças respiratórias, como enfisema e bronquite crônica, também apresentaram um aumento significativo, saltando de 2,7% para 10,7%.

A Luta por Justiça

A manifestação em Brumadinho não foi apenas um ato de lembrança, mas também uma chamada à ação. As famílias e os ativistas exigem que a Vale assuma a responsabilidade pela situação e que o governo implemente políticas de saúde adequadas para os atingidos. A contaminação da água e do solo, resultante do desastre, continua a afetar a vida de milhares de pessoas na região, e a necessidade de um acompanhamento médico adequado é cada vez mais urgente.

A luta por justiça e reparação é um tema recorrente entre os afetados pela tragédia de Brumadinho. As famílias buscam não apenas reconhecimento do sofrimento que enfrentam, mas também medidas concretas que garantam a saúde e o bem-estar das futuras gerações. O estudo da Fiocruz é um passo importante para evidenciar a gravidade da situação e reforçar a necessidade de ações imediatas para proteger a saúde da população local.