Morre Vicente Sá, poeta e compositor de Brasília

Na noite de sexta-feira, 24 de novembro, o Brasil perdeu um de seus grandes poetas e compositores, Vicente Tadeu Maranhão Gomes de Sá, que faleceu em Brasília, aos 68 anos. Natural de Pedreiras, no Maranhão, Vicente se tornou uma figura emblemática da cultura brasiliense, dedicando sua vida à poesia, à música e à crônica. Sua obra é um reflexo profundo de sua relação com a capital do país, especialmente com o bairro da Asa Norte, que ele considerava sua musa e fonte de inspiração.

Vicente Sá era parte da primeira geração de criadores que ajudaram a moldar a identidade cultural de Brasília. O poeta Nicholas Behr, que também é uma figura importante na cena literária da cidade, comentou sobre a perda, afirmando que "estamos perdendo uma alma genuinamente brasiliense". Behr destacou que Vicente não apenas viveu em Brasília, mas a assumiu como sua cidade, transformando-a em um personagem central em sua obra.

A trajetória de Vicente Sá se entrelaça com a história da cidade, que foi planejada por Lúcio Costa e embelezada por Oscar Niemeyer. Behr menciona que Vicente e seus contemporâneos foram responsáveis por "humanizar a maquete" da cidade, criando um movimento cultural autêntico que começou a se desenvolver nos anos 1970. Essa geração de artistas buscou expressar suas experiências e sentimentos em um lugar que ainda estava se definindo.

O maestro Renio Quintas, que foi parceiro musical de Vicente, também refletiu sobre a importância de sua obra. Ele lembrou que a criação de Vicente ocorreu em um período de resistência à ditadura cívico-militar que dominou o Brasil entre 1964 e 1985. Segundo Quintas, a construção da epopeia de Brasília foi um esforço coletivo, e Vicente foi uma parte fundamental desse processo. Ele destacou que, naqueles tempos, era essencial que os artistas se unissem e ocupassem os espaços culturais disponíveis, já que não havia muitas opções.

O violonista Sérgio Duboc, que também colaborou com Vicente em várias canções, recordou como a falta de alternativas levou os artistas a se unirem e a criarem juntos. "Nós descobrimos que se não fizéssemos, não ia ter nada", disse Duboc, enfatizando a necessidade de ocupar os teatros, galerias e museus da cidade. Essa união e criatividade foram fundamentais para o desenvolvimento da cena cultural de Brasília.

Em uma entrevista à Agência Brasil, Duboc expressou sua tristeza pela perda de Vicente, com quem trabalhou por mais de 45 anos. Ele comentou que não havia uma fórmula única para suas colaborações, pois muitas vezes as músicas surgiam de forma espontânea. Às vezes, Duboc chegava com uma melodia pronta, e Vicente a transformava em letra. Outras vezes, eles começavam juntos, criando algo novo a partir de uma ideia inicial.

O advogado e poeta Fabrizio Morelo, que também colaborou com a dupla, elogiou Vicente por sua habilidade como compositor. Ele recordou momentos em que Vicente esperava por ele para finalizar uma música, sempre trazendo ideias que enriqueciam o trabalho. "O verso dele ia ser melhor que o meu", disse Morelo, ressaltando a generosidade e o talento de Vicente.

Após sua morte, muitos artistas de Brasília começaram a compartilhar versos de Vicente nas redes sociais, celebrando sua vida e obra. Um dos versos que circulou foi: "Quero morrer assim/cercado de amigos e cachaça/no colo da eterna companheira/bonito/poeta", refletindo o espírito livre e a alegria que Vicente trouxe à sua arte.

Vicente Sá faleceu devido a complicações de pneumonia, que foram agravadas por seu tratamento contra o câncer. O velório do poeta será realizado no Espaço Cultural Renato Russo, localizado na 508 Sul, a partir das 10h deste domingo, 26 de novembro. Durante o velório, haverá uma celebração com poetas e músicos, onde amigos e admiradores poderão homenagear a vida e a obra de Vicente Sá, um verdadeiro ícone da cultura brasiliense.