Estudo revela aumento de metais na urina de crianças em Brumadinho
Crianças em Brumadinho apresentam metais na urina.
Notícia publicada em 24/01/2025 17:05 - #saude
Um estudo realizado pela Fiocruz Minas e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) revelou que a presença de metais pesados na urina de crianças em Brumadinho, Minas Gerais, aumentou nos últimos anos. A pesquisa, que analisa as condições de vida e saúde da população local após o desastre do rompimento da barragem da Mineradora Vale, completou seis anos neste sábado (25).
Os resultados mostram que todas as amostras analisadas apresentaram pelo menos um dos cinco metais: cádmio, arsênio, mercúrio, chumbo e manganês. O percentual de crianças com níveis de arsênio acima do limite de referência subiu de 42% em 2021 para 57% em 2023. Nas áreas mais próximas ao desastre e à mineração, esse aumento é ainda mais alarmante.
O estudo, que acompanha os participantes anualmente desde 2021, busca entender as mudanças nas condições de saúde da população ao longo do tempo. Os dados mais recentes, que incluem informações de 2023, permitem uma comparação com os resultados anteriores.
Entre os adultos, cerca de 20% das amostras apresentaram arsênio acima do limite, enquanto entre os adolescentes, esse número foi de aproximadamente 9%. Em algumas regiões, a taxa de amostras com arsênio elevado chegou a 20,4%.
Os pesquisadores destacam que, embora a presença de metais seja preocupante, isso não significa que as pessoas estejam intoxicadas. A intoxicação só pode ser confirmada após uma avaliação clínica mais detalhada. Portanto, é recomendado que todos os participantes que apresentaram níveis elevados de metais façam uma avaliação médica.
Além disso, a pesquisa aponta a necessidade de uma rede de serviços de saúde que possibilite a realização de exames para a população em geral, não apenas para aqueles que participaram do estudo. A exposição a esses metais continua a ser um problema disseminado em Brumadinho.
O estudo também analisou as condições de saúde da população, levando em conta diagnósticos médicos anteriores e a percepção dos participantes sobre sua saúde. A maioria dos adultos e adolescentes avaliou sua saúde como boa ou muito boa, mas o percentual de pessoas que consideraram sua saúde ruim ou muito ruim se manteve alto nas áreas afetadas pela lama e pela mineração.
Entre os adolescentes, o diagnóstico de doenças crônicas, como asma e bronquite, aumentou de 12,7% em 2021 para 14% em 2023. Outras condições, como colesterol alto, também mostraram um aumento significativo, passando de 4,7% para 10,1% no mesmo período.
Os adultos relataram um aumento na frequência de doenças crônicas, como hipertensão e problemas de coluna. O diagnóstico de diabetes também subiu de 8,7% para 10,7%.
Os sintomas relatados pela população também aumentaram. Em 2021, os adultos mencionaram irritação nasal, dormências e tosse seca. Em 2023, esses sintomas se tornaram mais frequentes, indicando uma possível deterioração das condições de saúde.
A saúde mental também foi avaliada, e os resultados mostraram que a prevalência de diagnósticos de depressão e ansiedade se manteve alta. A dificuldade para dormir aumentou entre os adultos, passando de 26,7% em 2021 para 35,1% em 2023.
A procura por serviços de saúde aumentou significativamente. Em 2023, 44,1% dos adolescentes e 53,7% dos adultos relataram ter feito três ou mais consultas médicas, um aumento em relação a 2021. O Sistema Único de Saúde (SUS) continua sendo a principal referência para a população.
O estudo também avaliou a saúde infantil, observando o desenvolvimento neuromotor e cognitivo das crianças. Os resultados mostraram uma redução no número de crianças em risco de atraso no desenvolvimento, caindo de 42,5% em 2021 para 28,3% em 2023.
Além disso, a maioria das crianças apresentou um Índice de Massa Corporal (IMC) normal, com uma diminuição nos casos de obesidade e sobrepeso. Os pesquisadores acreditam que essa melhora pode estar relacionada ao retorno das atividades escolares após a pandemia de covid-19.
O estudo, intitulado Programa de Ações Integradas em Saúde de Brumadinho, é dividido em duas frentes: uma focada na população acima de 12 anos e outra voltada para crianças de até 6 anos. Em 2021, a amostra incluiu 3.297 participantes, enquanto em 2023 foram 2.825.
Os pesquisadores coletaram dados por meio de exames de sangue e urina, além de entrevistas que analisaram diversos aspectos da saúde da população. A pesquisa destaca a importância de monitorar a saúde da população de Brumadinho, especialmente após o desastre que afetou a região.