Baixa procura pela vacina contra a dengue preocupa especialistas

A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) fez um alerta importante sobre a baixa procura pela vacina contra a dengue, chamada Qdenga. Essa vacina está disponível em 1,9 mil cidades do Brasil, onde a dengue é mais comum. No entanto, apenas metade das doses distribuídas pelo Ministério da Saúde foi aplicada até agora.

Entre fevereiro de 2024 e 20 de janeiro de 2025, o governo distribuiu 6.370.966 doses da vacina. Segundo dados da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), apenas 3.205.625 doses foram aplicadas até o momento. Essa situação é preocupante, especialmente considerando que em 2024 o Brasil registrou um número recorde de casos de dengue, com 6.629.595 casos prováveis e 6.103 mortes. Além disso, há 761 óbitos ainda em investigação. Em 2025, até agora, foram registrados 101.485 casos prováveis e 15 mortes confirmadas.

A vacina Qdenga

A vacina Qdenga, desenvolvida pelo laboratório japonês Takeda Pharma, foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e começou a ser distribuída no Brasil em fevereiro de 2024. Devido à capacidade limitada de produção do fabricante, a vacina está disponível apenas para um grupo específico: crianças de 10 a 14 anos, que são as mais afetadas pela dengue, além de pessoas idosas, que não podem receber a vacina.

A Qdenga é administrada em duas doses, com um intervalo de 90 dias entre elas. A presidente da SBIm, Mônica Levi, destacou que o Brasil foi o primeiro país a oferecer essa vacina na rede pública. Ela expressou preocupação com a baixa adesão à vacinação, ressaltando que a Qdenga é um imunizante seguro e eficaz. Mônica explicou que a segunda dose é crucial, pois proporciona uma proteção de longa duração, que pode durar pelo menos quatro anos e meio.

Caso alguém tenha perdido o prazo de 90 dias para a segunda dose, Mônica orienta que a pessoa pode tomar a dose adicional normalmente. No Rio de Janeiro, por exemplo, as autoridades estão convocando crianças e adolescentes para receberem essa dose extra. Ela enfatizou que, mesmo que haja atraso, a primeira dose continua válida e não é necessário recomeçar o esquema de vacinação.

Produção de nova vacina

Recentemente, o Instituto Butantan, vinculado ao governo de São Paulo, anunciou que começou a produzir uma nova vacina contra a dengue, chamada Butantan-DV. No entanto, essa vacina ainda precisa da aprovação da Anvisa. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou que não se espera uma vacinação em massa contra a dengue em 2025.

Prevenção e monitoramento

O alerta da SBIm coincide com as ações de prevenção e monitoramento do Ministério da Saúde, que estão sendo intensificadas devido à detecção do sorotipo 3 (DENV-3) do vírus da dengue. Esse sorotipo não circulava de forma predominante no Brasil desde 2008, e a maioria da população está suscetível a ele.

O Ministério da Saúde explicou que a lista dos 1.921 municípios que receberam a vacina Qdenga foi elaborada em conjunto com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). Essa lista foi feita com base em critérios como a alta transmissão da dengue nos últimos dez anos e a população residente nos municípios.

O ministério também destacou que a baixa disponibilidade da vacina faz com que a vacinação não seja a principal estratégia de combate à dengue. Por isso, o foco continua na prevenção. O governo lançou um Plano de Ação para Redução da Dengue e Outras Arboviroses, que inclui o controle do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue. Entre as ações estão o uso de tecnologias como o método Wolbachia, Estações Disseminadoras de Larvicidas (EDLs) em áreas de difícil acesso e a Técnica do Inseto Estéril por Irradiação (TIE-Irradiado) em aldeias indígenas.

Além disso, o ministério criou um Centro de Operações de Emergência em Saúde (COE) para ampliar o monitoramento das arboviroses, reforçando a importância de ações preventivas para combater a dengue e outras doenças transmitidas por mosquitos.