Indicações ao Oscar trazem esperança para famílias de desaparecidos

A professora de psicologia Vera Paiva, de 71 anos, expressou sua emoção e a de sua família em relação às três indicações ao Oscar do filme Ainda Estou Aqui. Para ela, essas indicações têm um significado especial, representando uma forma de reparação por momentos difíceis vividos por muitas famílias brasileiras, especialmente aquelas que perderam entes queridos durante a ditadura militar no Brasil.

Vera, que é filha de Rubens Paiva, um dos desaparecidos políticos mais conhecidos do país, afirmou que o reconhecimento da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood é um tributo não apenas à sua família, mas a todas as famílias que sofreram com a perseguição, tortura e assassinato de seus membros. Ela destacou que muitas dessas famílias, como a dela, nunca tiveram a oportunidade de enterrar seus entes queridos, o que torna essa homenagem ainda mais significativa.

Em suas declarações, Vera Paiva também fez uma reflexão sobre a dor que muitas mulheres enfrentam ao perder seus maridos, filhos ou netos em situações de opressão. Ela mencionou que o reconhecimento do filme é uma homenagem a essas mulheres, que, assim como sua mãe, Eunice Paiva, enfrentaram a dor da perda em um contexto de violência e injustiça. Vera criticou a postura de pessoas que se colocam em posições de poder e decidem quem vive ou morre, referindo-se a essas ações como uma afronta aos valores cristãos.

Além de expressar sua gratidão pelo reconhecimento, Vera Paiva elogiou o trabalho do diretor Walter Salles e da equipe envolvida na produção do filme. Ela destacou a delicadeza e o cuidado que foram empregados na realização do projeto, ressaltando a atuação da atriz Fernanda Torres, que interpreta sua mãe no filme. As indicações ao Oscar incluem as categorias de melhor filme, filme internacional e melhor atriz, o que marca um momento histórico para o cinema brasileiro, sendo a primeira vez que um filme do país é indicado em três categorias ao mesmo tempo.

As indicações ao Oscar ocorreram em um momento simbólico, pois coincidiram com o aniversário de 54 anos da prisão de Rubens Paiva, que foi capturado por agentes da ditadura militar em 1971. Ele foi assassinado sob circunstâncias trágicas, e seu corpo nunca foi devolvido à família. A luta por justiça e reconhecimento continua, e em 2014, o Ministério Público Federal denunciou cinco militares reformados envolvidos no caso, mas até agora, nenhum deles foi responsabilizado criminalmente.

O filme Ainda Estou Aqui não apenas traz à tona a história de Rubens Paiva, mas também serve como um lembrete da luta contínua por justiça e memória das vítimas da ditadura militar no Brasil. Vera Paiva, ao compartilhar sua história e a de sua família, espera que o reconhecimento do filme ajude a manter viva a memória dos desaparecidos e a importância de se lutar por um futuro mais justo e igualitário.

As indicações ao Oscar são um passo importante para o cinema brasileiro e uma oportunidade de trazer à luz questões que muitas vezes são esquecidas. Vera Paiva acredita que esse reconhecimento pode ajudar a sensibilizar mais pessoas sobre a história do Brasil e a importância de lembrar aqueles que sofreram injustamente. Para ela, cada indicação é uma forma de honrar a memória de seu pai e de todas as famílias que ainda buscam respostas e justiça.