Morte de Rubens Paiva completa 54 anos com legado de luta reconhecido

A história de Rubens Paiva, ex-deputado federal, voltou a ser lembrada recentemente, especialmente com o lançamento do filme "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles. O filme, que se baseia no livro escrito por Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-parlamentar, traz à tona a dor e a luta da família Paiva, especialmente da esposa, Eunice Paiva. A narrativa do filme e do livro destaca a trajetória de um homem que, mesmo diante de um regime opressor, se destacou por sua coragem e idealismo.

Rubens Paiva nasceu em 1929, na cidade de Santos, em São Paulo. Desde jovem, ele se mostrou inconformado com as injustiças sociais, um sentimento que o acompanhou ao longo de sua vida. Ele se formou em engenharia civil pela Universidade Mackenzie e, durante sua trajetória acadêmica, se envolveu ativamente no movimento estudantil, onde se destacou como líder. Em 1962, Paiva se elegeu deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), onde se tornou conhecido por sua luta em favor da reforma agrária e por sua atuação em uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigava o financiamento ilegal de campanhas políticas.

A vida de Rubens Paiva mudou drasticamente em 20 de janeiro de 1971, quando ele foi sequestrado em sua casa, no Rio de Janeiro, por agentes do Centro de Informações da Aeronáutica (CISA). Após ser levado para um quartel da Força Aérea Brasileira (FAB), ele foi torturado e, segundo registros da Comissão Nacional da Verdade, foi assassinado naquela mesma noite ou nos dias seguintes. A família só obteve o atestado de óbito de Rubens em fevereiro de 1996, um reconhecimento tardio que trouxe um pouco de alívio à dor da perda.

O biógrafo Jason Tércio, que dedicou anos de pesquisa à vida de Paiva, descreve-o como um homem de combatividade e idealismo. Tércio escreveu dois livros sobre o ex-deputado, um deles intitulado "Segredo de Estado: o desaparecimento de Rubens Paiva", que explora as circunstâncias de seu sequestro e morte. O outro, "Perfil Parlamentar de Rubens Paiva", foi entregue à Câmara dos Deputados e destaca a importância de sua atuação política.

Durante seu breve mandato, que durou pouco mais de um ano, Paiva se destacou por sua luta em favor de causas sociais e pela defesa da democracia. Ele se opôs à privatização da Petrobras e buscou melhorias na educação e na saúde. Sua atuação na CPI que investigava o financiamento eleitoral suspeito de parlamentares o colocou em conflito com o regime militar, que estava se consolidando no Brasil após o golpe de 1964.

Após ser cassado e perder seus direitos políticos, Rubens Paiva se exilou por um curto período, mas decidiu retornar ao Brasil, onde continuou a lutar contra a ditadura. Ele se envolveu em atividades clandestinas e apoiou grupos de resistência, mesmo sabendo que estava sendo monitorado pelos militares. Sua coragem e determinação em lutar por um Brasil mais justo o tornaram um alvo para o regime, que o considerava uma ameaça.

A repercussão do filme "Ainda Estou Aqui" trouxe à tona a importância de se lembrar da história de Rubens Paiva e de outros desaparecidos políticos. O ex-deputado estadual Adriano Diogo, que presidiu a Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, destacou que é fundamental resgatar a memória de figuras como Paiva e de todos aqueles que sofreram durante a ditadura militar. Para ele, a luta pela verdade e pela justiça é um dever da sociedade e dos gestores públicos.

A história de Rubens Paiva é um lembrete da importância de se manter viva a memória dos que lutaram pela democracia e pelos direitos humanos no Brasil. O reconhecimento tardio de sua morte e a busca por justiça ainda são temas relevantes na sociedade brasileira. O caso de Rubens Paiva, que ficou "engasgado na garganta do Brasil", como descreve Tércio, é um símbolo da luta contra a opressão e da busca por um futuro mais justo e igualitário.

A luta pela verdade e pela justiça continua, e a memória de Rubens Paiva e de tantos outros que sofreram nas mãos da ditadura militar deve ser sempre lembrada. O filme e o livro que contam sua história são ferramentas importantes para que as novas gerações conheçam e compreendam a importância da luta pela democracia e pelos direitos humanos no Brasil.