Cessar-fogo em Gaza pode não parar expansão israelense na Cisjordânia
Cessar-fogo em Gaza pode não interromper planos de Israel.
Notícia publicada em 16/01/2025 19:06 - #politica
O professor de direito internacional Salem Nasser, especialista em Oriente Médio, fez uma análise sobre o recente acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, que deve entrar em vigor no próximo domingo, dia 19. Segundo ele, essa trégua não deve impedir a continuidade do projeto de expansão de Israel na Cisjordânia, onde já existem mais de 700 mil colonos judeus.
Nasser, que leciona na Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo, acredita que o cessar-fogo foi uma exigência da nova administração dos Estados Unidos, que tomará posse no dia 20 de janeiro. No entanto, ele alerta que essa trégua pode ser usada como uma oportunidade para Israel intensificar a colonização da Cisjordânia, um território que, segundo o direito internacional, pertence aos palestinos.
A ideia de uma Grande Israel é uma proposta que remonta ao início do movimento sionista, que visava a criação de um Estado que se estendesse do Rio Nilo ao Rio Eufrates, abrangendo partes de países como Egito, Iraque, Jordânia, Líbano e Arábia Saudita. Embora o governo de Tel Aviv não defenda essa ideia abertamente, há grupos dentro de Israel, especialmente entre os colonos da Cisjordânia e partidos de extrema-direita, que apoiam essa expansão.
Em uma entrevista, Nasser comentou sobre a hesitação do governo de Benjamin Netanyahu em confirmar o cessar-fogo. Ele sugere que Netanyahu foi pressionado a aceitar a trégua, mas a implementou de forma a não parecer uma concessão, o que poderia desagradar seus ministros mais radicais. Essa estratégia pode permitir que o governo continue a realizar ações mais agressivas na Cisjordânia, como uma forma de agradar a sua base política.
O professor também expressou preocupação com o tempo que resta até a implementação do cessar-fogo, afirmando que isso pode resultar em mais violência e mortes de palestinos antes que a trégua entre em vigor. Ele acredita que o cessar-fogo pode ser apenas uma medida temporária para atender às exigências dos EUA, sem que haja uma mudança real na política israelense em relação aos palestinos.
Nasser também discutiu o impacto do cessar-fogo sobre o grupo Hamas, que controla a Faixa de Gaza. Ele observou que, apesar da destruição e da crise humanitária, o Hamas ainda mantém um discurso de resistência. No entanto, a necessidade de reconstrução pode forçar o grupo a fazer concessões.
Sobre o futuro do conflito, Nasser é cético em relação à proposta de uma solução de dois Estados, que é defendida por muitos na comunidade internacional. Ele argumenta que a ideia de um Estado palestino já foi praticamente descartada por Israel, que continua a expandir seus assentamentos.
O professor também comentou sobre a posição dos EUA e a influência que o novo governo de Joe Biden pode ter na situação. Ele acredita que, apesar das promessas de Biden e do secretário de Estado Antony Blinken de buscar uma solução pacífica, a realidade no terreno é muito mais complexa e a situação dos palestinos continua a ser ignorada.
Por fim, Nasser destacou que a luta dos palestinos não terminará, independentemente do que aconteça com o Hamas. Ele acredita que a resistência palestina é uma questão de justiça e que os palestinos continuarão a lutar por seus direitos, mesmo diante das adversidades.
Em resumo, o cessar-fogo em Gaza pode não ser suficiente para mudar a dinâmica do conflito, e a expansão israelense na Cisjordânia pode continuar, desafiando as esperanças de paz na região.