Historiador Rodrigo Goyena analisa a Proclamação da República
Entrevista com Rodrigo Goyena sobre a República.
Notícia publicada em 14/01/2025 18:22 - #cultura
O programa DR com Demori recebeu o historiador Rodrigo Goyena Soares, que trouxe uma análise profunda sobre a Proclamação da República no Brasil. Goyena é autor do livro Entre oligarquias – as origens da República brasileira (1870–1920) e possui uma formação sólida, sendo cientista político pelo Institut d’Études Politiques de Paris e pós-doutor em História pela Universidade de São Paulo.
Durante a entrevista, Goyena criticou a forma como a história é ensinada nas escolas, afirmando que muitas vezes se dá ênfase a figuras históricas como se fossem as únicas responsáveis pelas mudanças sociais e políticas. Para ele, a história deve ser vista como um produto do contexto em que os indivíduos vivem. Ele disse: "É o contrário do que se aprende como sendo a história. A história no ensino médio é ensinada numa sequência de acontecimentos em que determinadas personalidades são espécies de faróis, guias absolutos do destino nacional ou dos destinos internacionais".
Goyena argumenta que a liberdade humana é limitada e condicionada pelas estruturas sociais e políticas do seu tempo. Ele fez um paralelo entre o Brasil atual e o Brasil do passado, destacando o impacto da Guerra do Paraguai, que ocorreu entre 1864 e 1870. Esse conflito foi um dos maiores do século XIX e deixou o Brasil com uma grande dívida, tanto interna quanto externa, o que afetou profundamente a política e a economia do país.
O historiador explicou que o fim da Guerra do Paraguai trouxe uma nova dinâmica para as Forças Armadas brasileiras. Os militares, insatisfeitos com o governo civil, começaram a reivindicar reformas e direitos. Goyena afirmou que essas reivindicações rapidamente se tornaram políticas, levando os militares a se mobilizarem nas ruas. "Essas reivindicações assinalavam quase que a saída dos quartéis para as ruas, que diziam respeito também a um projeto de economia política para o Estado", disse ele.
A insatisfação dos militares com a monarquia e a busca por um Brasil mais industrializado foram fatores que contribuíram para a Proclamação da República. Goyena destacou que algumas medidas adotadas pelo Império, como a Lei Áurea, que aboliu a escravidão em 1888 sem indenização aos proprietários de escravos, geraram uma crise no sistema orçamentário do Estado. "Fez com que todo mundo corresse aos guichês para descontar imediatamente as letras e ter papel moeda ou algo equivalente", explicou.
Para lidar com a crise, o governo da época contraiu um empréstimo de 20 milhões de libras, um valor considerável, especialmente quando comparado à dívida de 5 milhões gerada pela Guerra do Paraguai. O Partido Republicano Paulista, ao perceber a gravidade da situação, concluiu que era hora de mudar o regime. "Quando o Partido Republicano Paulista vê isso, fica incrédulo, e fica incrédulo a ponto de dizer, acabou, agora tem que vir a República", relembrou Goyena.
Após várias reuniões secretas, o golpe que resultou na Proclamação da República foi articulado e executado em 15 de novembro de 1889. Goyena enfatizou que esse movimento foi, de fato, um golpe militar, comparando-o ao golpe de 1964. "Estavam dispostos a dar um golpe, porque aquilo é um golpe militar, de fato", finalizou.
Deodoro da Fonseca, que liderou o movimento, se tornou o presidente provisório e, posteriormente, foi eleito como o primeiro presidente constitucional da República, ocupando o cargo até 23 de novembro de 1891.
O programa DR com Demori vai ao ar todas as terças-feiras, às 23h, na TV Brasil, além de estar disponível no YouTube, no aplicativo TV Brasil Play e nas rádios Nacional e MEC. Todos os episódios podem ser assistidos no canal do YouTube da TV Brasil.