Pesquisadores Iniciam Circum-navegação Inédita na Antártica
Expedição busca entender mudanças climáticas.
Notícia publicada em 01/12/2024 11:02 - #ciencia
Pesquisadores de sete países, liderados pelo Brasil, estão prestes a embarcar em uma expedição histórica: a circum-navegação da Antártica. Este projeto inédito envolve a navegação ao redor de todo o continente congelado do Polo Sul, cobrindo uma distância de aproximadamente 14 mil quilômetros. O principal objetivo da expedição é coletar amostras de gelo, água e ar, com o intuito de compreender melhor as mudanças climáticas e os impactos da poluição na região.
A expedição teve início no dia 22 de novembro, partindo do Rio Grande do Sul. A equipe é composta por 61 cientistas, sendo 27 deles de nove universidades públicas brasileiras. Os demais pesquisadores são oriundos de países como Rússia, China, Índia, Argentina, Chile e Peru. O professor Jefferson Cardia Simões, do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é o chefe da missão. Ele é um especialista em geografia polar e já visitou a Antártica diversas vezes.
Antes da partida, Jefferson destacou a importância da expedição, afirmando que as regiões polares estão passando por mudanças climáticas intensas e rápidas, que afetam diretamente a vida cotidiana das pessoas. Ele enfatizou que a pesquisa na Antártica é crucial para entender como o clima está mudando e como isso pode impactar o planeta.
Os cientistas estão a bordo de um navio quebra-gelo do Instituto de Pesquisa Ártica e Antártica da Rússia. Esta embarcação, com mais de 130 metros de comprimento, é uma das poucas disponíveis para fins científicos e é capaz de quebrar placas de gelo de até 2 metros de espessura. Isso permite que os pesquisadores se aproximem da costa e realizem suas coletas de forma mais eficiente.
A expectativa é que a circum-navegação comece até o dia 4 de dezembro e continue até 12 de janeiro. Durante esse período, a equipe deve chegar à Ilha Rei Jorge, que é o ponto mais próximo da América do Sul e abriga a Estação Antártica Comandante Ferraz, da Marinha do Brasil. A previsão é que os pesquisadores retornem à cidade de Rio Grande entre os dias 23 e 25 de janeiro.
Os cientistas têm diversas responsabilidades durante a expedição, que se dividem em três áreas principais: monitoramento das calotas de gelo, análise do clima e detecção de microplásticos. O objetivo é entender como o manto de gelo da Antártica se comportava no passado e como ele está reagindo às mudanças climáticas e à ação humana.
Jefferson Cardia explicou que as plataformas de gelo flutuantes estão desaparecendo rapidamente. Ele alertou que o aquecimento dos oceanos e da atmosfera pode estar contribuindo para a desintegração do manto de gelo, o que pode resultar em um aumento significativo do nível do mar nos próximos séculos. Ele mencionou que, se essa tendência continuar, cidades como Porto Alegre podem ficar submersas.
Um dos grupos de pesquisadores se dedicará à coleta de amostras de neve compactada, que contém informações sobre o clima de anos anteriores. Outro grupo focará na coleta de amostras de água para medir a presença de microplásticos e outros poluentes. Além disso, o ar da região será analisado para pesquisas atmosféricas, e medições das calotas polares e icebergs serão realizadas para avaliar a velocidade do derretimento das geleiras.
A expedição também conta com o apoio de dezenas de pesquisadores que estão em terra. A professora Rosemary Vieira, do Instituto de Geociências da Universidade Federal Fluminense, é uma das coordenadoras da equipe e está em contato constante com as pesquisadoras a bordo. Elas têm a tarefa de coletar amostras de sedimentos do fundo marinho, que são importantes para entender as mudanças climáticas ao longo do tempo.
Rosemary explicou que os sedimentos são como arquivos que guardam informações sobre as condições ambientais e climáticas do passado. As análises realizadas podem fornecer dados valiosos sobre como o clima mudou ao longo de milhares de anos.
A pesquisa na Antártica é vital para a compreensão do clima global, pois o que acontece nesse continente tem reflexos em todo o planeta. A professora Rosemary destacou que a Antártica é um dos principais reguladores climáticos e que as mudanças que ocorrem lá afetam diretamente o regime de chuvas e as temperaturas em lugares distantes, como o Brasil.
Jefferson Cardia Simões também ressaltou a importância da cooperação internacional na ciência. Ele mencionou que coordenar uma equipe de cientistas de diferentes países e culturas é um desafio, mas que a colaboração é essencial para resolver problemas comuns e avançar na pesquisa científica.