Reflorestamento em Propriedades Privadas e a Preservação da Mata Atlântica

A Mata Atlântica é um dos biomas mais ricos em biodiversidade do Brasil, mas enfrenta sérios desafios devido ao desmatamento. Cerca de 70% da população brasileira vive em áreas que fazem parte desse bioma, que se estende por 17 estados do país. Infelizmente, mais de 71% da Mata Atlântica já foi desmatada, o que representa uma grande perda para a natureza e para a qualidade de vida das pessoas que dependem desses recursos.

Um exemplo positivo de como o reflorestamento pode ajudar a restaurar a Mata Atlântica é a história de Mário Honorio Teixeira Filho, que possui um sítio em Cachoeiras de Macacu, no Rio de Janeiro. Em 2020, sua propriedade enfrentou uma grave crise hídrica, pois a fonte de água que abastecia o local secou. Antes de adquirir a propriedade, o local havia sido utilizado para o cultivo de mandioca e inhame, e, posteriormente, transformado em pasto para criação de gado. Com a degradação da vegetação nativa, a água se tornou escassa.

Diante dessa situação, o filho de Mário, Mário Bruno Teixeira, convenceu o pai a investir no reflorestamento de parte da propriedade. Em menos de um ano após o plantio de novas árvores, a água voltou a brotar do solo. Leonardo de Mattos, que também trabalha no sítio, destaca a importância desse reflorestamento: "A gente não está plantando árvore. A gente está plantando água, na verdade. É disso que a gente precisa". Além de recuperar a fonte de água, o reflorestamento trouxe de volta a fauna local, como pássaros e até um tamanduá, que não eram vistos na região há anos.

O reflorestamento do sítio de Mário e Bruno faz parte do Projeto Guapiaçu, uma iniciativa que busca restaurar a Mata Atlântica em áreas degradadas, especialmente em propriedades privadas. O projeto é realizado pela Ação Socioambiental (Asa) em parceria com a Petrobras. O objetivo é mostrar aos proprietários que a preservação da vegetação nativa não só melhora a qualidade da produção agrícola, mas também a qualidade de vida da comunidade local.

Nos últimos seis anos, o projeto visitou mais de mil propriedades em Cachoeiras de Macacu, mas apenas 200 proprietários aceitaram a parceria, e apenas 16 realmente se comprometeram a reflorestar suas terras. Até agora, mais de 500 mil mudas foram plantadas em uma área total de 300 hectares. Os proprietários cedem o terreno, enquanto o projeto se encarrega do plantio e da manutenção das árvores, utilizando espécies nativas da Mata Atlântica.

O reflorestamento é especialmente importante em Cachoeiras de Macacu, que abriga o Parque Estadual dos Três Picos, o maior parque estadual do Rio de Janeiro e um local crucial para a preservação da Mata Atlântica. O município é conhecido por seu potencial hídrico, sendo responsável pelo abastecimento de água de cerca de 2 milhões de pessoas em várias cidades da região. O projeto Guapiaçu busca criar corredores de floresta, conectando áreas de preservação e reflorestamento, permitindo que a fauna e a flora se desenvolvam de forma mais saudável e sustentável.

Gabriela Viana, presidente da Ação Socioambiental, explica que o reflorestamento traz muitos benefícios, como a melhoria da qualidade do ar e a recuperação da biodiversidade. Ela destaca que mesmo pequenas propriedades, como a de Bruno, podem fazer uma grande diferença. O projeto acompanha o reflorestamento por três anos, tempo suficiente para que as árvores se estabeleçam e a floresta comece a se regenerar. Em 20 anos, é possível ter uma floresta rica em fauna e flora.

Gabriela também reflete sobre a importância de plantar árvores, afirmando que é um ato generoso que beneficia as futuras gerações. Ela acredita que ainda há tempo para salvar as florestas e os seres humanos, mesmo diante da crise climática atual. O trabalho de reflorestamento em áreas privadas é um passo importante para a preservação da Mata Atlântica e a manutenção dos recursos hídricos, essenciais para a vida de milhões de brasileiros.