Polícia Federal finaliza inquérito sobre assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips
Inquérito conclui indiciamento de nove pessoas.
Notícia publicada em 04/11/2024 13:32 - #sociedade_comportamento
A Polícia Federal (PF) finalizou, na última sexta-feira (1º), o inquérito sobre os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. As investigações duraram quase dois anos e meio e revelaram detalhes importantes sobre o caso, que chocou o Brasil e o mundo.
Os dois foram mortos a tiros no dia 5 de junho de 2022, em Atalaia do Norte, no estado do Amazonas. Eles estavam na região para visitar comunidades próximas à Terra Indígena Vale do Javari, que é a segunda maior área do Brasil destinada ao usufruto exclusivo de povos indígenas e abriga a maior concentração de povos isolados do mundo. A PF informou que os assassinatos ocorreram em razão das atividades de fiscalização realizadas por Bruno Pereira, que lutava pela preservação ambiental e pelos direitos indígenas.
No relatório final, a PF manteve o indiciamento de nove pessoas. Isso significa que o órgão apresentou uma denúncia ao Ministério Público Federal (MPF), alegando ter provas suficientes para acusar essas pessoas de envolvimento no duplo homicídio. O MPF agora tem a opção de arquivar o caso, caso não encontre elementos suficientes, ou de levar os indiciados à Justiça Federal, transformando-os em réus.
Entre os indiciados, destaca-se Ruben Dario da Silva Villar, que é apontado como o mandante do crime. A PF não revelou os nomes dos outros oito indiciados, mas informou que eles desempenharam papéis na execução dos homicídios e na ocultação dos corpos das vítimas. A defesa de Villar ainda não foi contatada pela imprensa, mas ele já havia sido indiciado anteriormente em janeiro de 2023, quando a PF anunciou que havia identificado a maioria dos envolvidos no assassinato.
Na época, o então superintendente regional da PF no Amazonas, Alexandre Fontes, afirmou que havia provas de que Villar fornecia munições para outros suspeitos, que foram encontradas no local do crime. Além disso, ele também teria pago as despesas iniciais da defesa de um dos primeiros suspeitos a ser preso, Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado.
Dom Phillips, de 57 anos, era um jornalista respeitado, colaborando com publicações renomadas como o The Guardian, The New York Times e Washington Post. Ele estava na região para entrevistar lideranças indígenas e ribeirinhos para um novo livro-reportagem sobre a Amazônia. Embora falasse português fluentemente e já tivesse visitado a área em outras ocasiões, ele estava acompanhado de Bruno Pereira, que era um indigenista experiente e conhecia bem a região.
Bruno Pereira, de 41 anos, estava licenciado da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) desde fevereiro de 2020, devido a questões políticas. Mesmo assim, ele continuou a trabalhar em defesa dos direitos dos povos indígenas e na proteção dos recursos naturais da região. Ele atuava como consultor técnico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), onde ajudava a implementar projetos que visavam proteger os territórios das comunidades tradicionais.
A PF destacou em sua nota que as investigações confirmaram que os assassinatos de Pereira e Phillips foram motivados por suas atividades de defesa ambiental e dos direitos indígenas. O órgão também afirmou que continua monitorando os riscos enfrentados pelos habitantes da região do Vale do Javari e que segue investigando ameaças contra os indígenas que vivem na mesma área onde os dois foram mortos.
O caso de Bruno Pereira e Dom Phillips é um triste exemplo dos perigos enfrentados por aqueles que lutam pela preservação ambiental e pelos direitos dos povos indígenas no Brasil. A conclusão do inquérito pela PF é um passo importante, mas a luta pela justiça e pela proteção dos direitos humanos na Amazônia ainda está longe de terminar.