Desigualdade Social nas Capitais do Agronegócio no Centro-Oeste

O Brasil, um dos maiores produtores de grãos do mundo, teve um desempenho notável na safra de 2022/2023, com uma produção de aproximadamente 323 milhões de toneladas de grãos, o que representa um aumento de 18% em relação ao ciclo anterior. Esse crescimento impulsionou o Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária, que cresceu 15,1%, superando os setores industrial e de serviços, que tiveram altas de apenas 1,6% e 2,4%, respectivamente. Entre os principais responsáveis por esse aumento estão os estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que se destacam na produção de soja e milho.

No entanto, apesar do crescimento econômico impulsionado pelo agronegócio, as capitais desses estados, Campo Grande, Cuiabá e Goiânia, apresentam indicadores sociais preocupantes. O PIB per capita dessas cidades está abaixo da média nacional, que é de R$ 50.193,72. Isso indica que, mesmo com a riqueza gerada pelo agronegócio, a população local não está se beneficiando de forma equitativa.

Problemas de Saneamento e Educação

As três capitais enfrentam sérios problemas em relação ao saneamento básico. Nenhuma delas conseguiu universalizar o esgotamento sanitário, e os índices de escolarização também são alarmantes. Em Campo Grande, apenas 16,6% dos domicílios têm acesso a tratamento de esgoto, e a cidade ocupa a 17ª posição em população no Brasil, mas está em 3.412º lugar em salário médio. Além disso, mais de 2.060 cidades têm melhores percentuais de escolarização entre crianças e adolescentes.

Cuiabá, que é a 31ª cidade mais populosa do país, está em 4.692º lugar na escolarização do ensino fundamental e tem uma taxa de mortalidade infantil de 13,63 por mil nascidos vivos, o que é superior a mais de 3.380 cidades. Em Goiânia, a situação não é diferente: a cidade, que é a 10ª mais populosa, ocupa a 4.281ª posição na escolarização de crianças e adolescentes, e cerca de 25% dos domicílios não têm esgoto sanitário.

Desigualdade Racial e de Gênero

A desigualdade social se agrava ainda mais quando se observa a violência e as disparidades raciais. Em Campo Grande, Cuiabá e Goiânia, jovens negros e indígenas enfrentam taxas de homicídio muito mais altas do que seus pares brancos. Em Cuiabá, a taxa de homicídios entre jovens negros e indígenas é de 10,13 por 100 mil habitantes, enquanto a taxa para brancos e amarelos é de apenas 0,95. Essa diferença se reflete na expectativa de vida: em Goiânia, brancos e amarelos vivem em média até 71,3 anos, enquanto negros e indígenas morrem, em média, aos 64,2 anos.

Além das disparidades raciais, as desigualdades de gênero também são evidentes. Em todas as três capitais, os homens ganham mais do que as mulheres. Em Goiânia, a diferença de rendimentos é de 28,03%, em Cuiabá é de 22,9% e em Campo Grande é de 18,95%. A participação feminina nas secretarias municipais também é baixa, com apenas 38,5% em Campo Grande, 29,4% em Cuiabá e 17,7% em Goiânia.

Políticas Públicas e Participação

Apesar dos desafios, as três cidades têm implementado algumas políticas de participação e promoção de direitos humanos. Elas possuem conselhos que visam garantir direitos de diversas populações, como crianças, idosos e pessoas com deficiência. Cuiabá se destaca, com 85,7% das instâncias participativas em funcionamento, enquanto Campo Grande e Goiânia têm 71,4%.

Entretanto, a capacidade de gestão de riscos e a prevenção a eventos climáticos ainda são insuficientes. Nenhuma das cidades alcança a metade das estratégias recomendadas para o planejamento e gerenciamento de riscos, como enchentes e deslizamentos. Isso é preocupante, especialmente em um contexto de mudanças climáticas, onde eventos extremos podem se tornar mais frequentes.

Conclusão

As capitais do agronegócio no Centro-Oeste brasileiro, embora apresentem um crescimento econômico significativo, enfrentam desigualdades sociais alarmantes. A falta de acesso a serviços básicos, a violência racial e de gênero, e a baixa participação feminina em cargos de liderança são questões que precisam ser abordadas com urgência. O desafio agora é transformar a riqueza gerada pelo agronegócio em benefícios reais para toda a população dessas cidades, garantindo que o desenvolvimento econômico seja acompanhado de justiça social e inclusão.